O Paraná abdica de seu potencial em gás natural, proibindo a si próprio o aproveitamento de um recurso estratégico para seu desenvolvimento. Não é por não necessitar dele, pois a indústria é carente desta fonte de energia, limitada pela saturação do Gasbol. Nem é por não dispor dele, pois dois poços prontos para produzir quase metade do gás atualmente consumido estão à espera de novas descobertas. As possibilidades oferecidas pela natureza geológica do oeste do Paraná, em profundidades da ordem de 4 mil metros, são há muito conhecidas e já previstas e anunciadas aqui na Gazeta do Povo em 1983. Nem é por restrições ambientais, pois elas não são maiores que as de postos de gasolina, hidrelétricas ou usinas alcooleiras.
As restrições tecnológicas existentes, devidas à baixa permeabilidade das rochas hospedeiras, foram superadas com o fraturamento hidráulico – o fracking – em poços horizontais há 11 anos nos Estados Unidos e hoje estima-se que 1,5 milhão de poços produtores já utilizam ou dela se utilizaram. O sucesso foi tão grande que provocou uma onda de reação dos concorrentes. Os oponentes teimaram em reinventar dificuldades para manter privilégios ou cooptar cúmplices.
Com a proibição aqui no Paraná, o movimento antifracking internacional proclama mais uma vitória. Depois de vitórias parciais em alguns países da Europa, o movimento tem a maior vitória já conquistada, justo aqui no Brasil, o país-continente com uma altíssima demanda por gás. Justo aqui no Paraná, onde, além da demanda urgente, há o privilégio seleto de hospedar volumes significativos de gás metano, sem riscos ambientais significativos.
O Paraná abdica de um potencial energético diferenciado, independente de chuvas, de insolação e de ventos
A Assembleia Legislativa declarou proibidas as atividades de fracking para aproveitamento do gás do xisto (shale gas) no território paranaense e até mesmo para a pesquisa – uma atitude retrógrada e obscurantista. Mesmo não sabendo bem o que é fracking ou o que é shale gas, como e onde ocorre, nem mesmo querendo saber, a proibição está decidida em nome do povo do Paraná. Falaciosamente o faz em nome de legítimos anseios de proteção ambiental, de preservação da qualidade dos aquíferos e defesa dos interesses do agronegócio. Ilude a si próprio o Executivo que adotou os mesmos argumentos e a sociedade.
O Paraná abdica de um potencial energético diferenciado, independente de chuvas, de insolação e de ventos. Alem da energia, o gás é matéria prima necessária para produção de fertilizantes: o gás metano, o mais nobre combustível e insumo da indústria petroquímica. A quem interessa a proibição? Quais seriam os reais motivos de as ONGs se organizarem e custearem movimentos contra o aproveitamento do gás natural?
Mais de uma dezena de estudos exaustivos sobre os eventuais e potenciais efeitos ambientais, hídricos e sociais da indústria petrolífera do gás natural nos Estados Unidos e no Canadá, realizados por institutos e universidades oficiais e privados dos EUA, do Canadá, da Inglaterra, da Irlanda e também do Brasil, muitos resultados auditados e avaliados por pares, muitos publicados em relatórios oficiais e em revistas científicas, mostram a ausência de sustentação baseada em fatos para os tais danos proclamados pelos lideres ambientalistas e políticos que defendem a proibição do fracking. Mesmo a União Europeia, com intensa densidade de ocupação do território e sede dos mais conflitantes interesses corporativos e regionais, em especial da distribuição de gás da Sibéria, da indústria de painéis fotovoltaicos e implantação de usinas nucleares, admitiu a possibilidade de uso das tecnologias do fracking e estabeleceu regras mínimas em 2014.
Entretanto, esses movimentos ambientalistas usam fantasiosas, falsas e enganosas relações para tornar o procedimento passionalmente indesejado. Estas falsidades se propagam com facilidade, num ambiente em que se ignora o que são e como se processam as operações associadas ao fracking, pois se trata de operações que não ocorrem em superfície. Poluição de águas superficiais ou de aquíferos potáveis, provocação de terremotos, uso excessivo de água, concorrência com a ocupação e uso agrícola das terras são os principais argumentos usados. Entretanto, não têm sustentação em fatos reais, nem em estudos técnicos e científicos; trata-se apenas de associação falsa de fatos e boatos, com o objetivo de viciar a opinião das pessoas e mobilizá-las emocionalmente para interesses políticos, partidários e corporativos.
A campanha antifracking, iniciada na América do Norte, foi claramente um movimento dos produtores de carvão, urânio e de usinas nucleares, ajudados pelos produtores de usinas de energia eólica e de placas fotovoltaicas, receosas da redução de subsídios governamentais. Associaram-se ao movimento as grandes petrolíferas, em virtude da multiplicação de empresas produtoras e dos excedentes de petróleo gerado; a redução do preço do petróleo foi uma forma de bloquear o desenvolvimento da tecnologia então já extensivamente usada também para produzir óleo (tight oil).
Na Europa, a campanha foi estimulada e financiada pela Gazprom – fornecedora russa de gás para os europeus –, ajudada pelas produtoras de usinas nucleares e de energia alternativa. As ONGs ambientalistas americanas foram o principal vetor das campanhas anti-fracking mesmo na Europa, apesar do ganho ambiental com a combustão eficiente e limpa do gás em substituição à energia suja do carvão, intensivamente usada tanto na América como na Europa. Tais movimentos têm um apelo emocional forte e dispensam o uso da razão. Mesmo no Brasil, associações como a das industrias nucleares (ABDAN, defendendo a construção de quatro usinas nucleares), de pequenas centrais hidrelétricas (ABPCH), da industria alcooleira, bem como de produtores de energias alternativas, têm tido um papel importante no estímulo aos movimentos antifracking, em favor de seus interesses corporativos e ao mesmo tempo prevenindo-se de concorrentes na matriz energética e na distribuição de subsídios federais.
Tais ONGs têm feito um trabalho altamente profissional de convencimento de comunidades desinformadas utilizando-se de apelo emocional especialmente associado ao medo: medo da falta de água potável, de terremotos, de perda de suas casas, de seu território doméstico e até mesmo das mudanças climáticas. O medo é a principal e mais primitiva forma de se tomar decisões e de se cooptar. Guerras e religiões sempre se utilizaram desta emoção.
Como se poderia aceitar declarações falsas e improváveis de danos ambientais, sociais e agrícolas, sem que os fatos sejam verificados ou mesmo as hipóteses sejam confrontadas com o mundo real, com o conhecimento técnico e científico – que facilmente desconstroem a convicção ou a proposição?
Vivemos a idade do hiperabsurdo, escreveu não um velho saudosista, mas um jovem jornalista econômico neste mês. Parece que vivemos uma época da “rejeição irracional daquilo que é evidente por si mesmo”. Mentiras são o mesmo que verdades. Fato e ficção são confundidos. Retrocesso é apresentado como progresso. Guerra é paz. A ameaça ambiental ora é ciência, ora é farsa. O corrupto sucede o probo em nome da rejeição à corrupção. Dependência torna-se independência.
Pior que esta irracional rejeição, em plena vigência da sociedade do conhecimento, ao evidente por si mesmo é a aceitação apática e a disposição para se satisfazer com esta rejeição. É como “rir do tiro no próprio pé”, lembra o autor. Os vitoriosos das ONGs e da Assembleia Legislativa do Paraná estão fazendo isso.
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