Quando o governo erra, criticamos. Quando o governo acerta, elogiamos. A honestidade intelectual nos impõe esse comportamento, exceto se formos filiados a um partido aliado que exige elogiar o governo sempre, ou a um partido de oposição que obrigue a criticar sempre. O fato é que todo governo tem erros e acertos. O governo da presidente Dilma não é diferente.
Refiro-me à adesão do PT à política de privatização, cujo episódio mais recente foi o leilão dos aeroportos do Galeão e Confins, que rendeu R$ 20,8 bilhões para o caixa do Tesouro Nacional. Mas o ganho maior virá dos investimentos, tão necessários, que deverão ser feitos pelos consórcios ganhadores. Portanto, o governo acertou.
A pior obra é aquela que não existe. Seja estatal ou privada, a infraestrutura brasileira precisa ser ampliada com urgência, pois o estrangulamento é conhecido e visível. O Brasil está intransitável. A economia cresceu e a população aumentou em 10,3 milhões de pessoas somente em três anos, saindo de 190,7 milhões de habitantes em 2010 para 201 milhões em julho de 2013.
Até hoje há quem diga que o país não pode privatizar empresas estratégicas. Mas o que significa a expressão "estratégica"? Não existem empresas estratégicas e empresas não estratégicas. O que existe são empresas eficientes e empresas não eficientes. Uma empresa ineficiente não pode ser estratégica, a menos que a estratégia seja empobrecer o país. A manutenção de certas estatais, ineficientes e deficitárias, é um tremendo equívoco.
Os aeroportos do Rio de Janeiro, a cidade brasileira mais cultuada pelo mundo, parecem rodoviárias de quinta categoria. A empresa estatal que os administra não consegue cumprir a simples tarefa de manter banheiros limpos e ar-condicionado funcionando. O resto também funciona mal. Esse é o retrato da péssima qualidade dos serviços públicos (salvo as exceções de praxe). Nem o governo nega isso.
Não há razão lógica para impedir empresas privadas de operar aeroportos. No mundo, há enormes aeroportos, confortáveis e eficientes, operados por empresas privadas. O medo de capitais privados é uma doença infantil, mesmo porque o governo dispõe de quatro armas contra qualquer empresa que não ande na linha. O poder de regular, de tributar, de desapropriar e de confiscar.
O problema do Brasil é que um grande número de pessoas sobretudo entre políticos e intelectuais não aceita ceder um milímetro sequer de seu fanatismo marxista em favor da realidade dos fatos. São pessoas que não se permitem aceitar que o Estado, conquanto seja necessário em suas funções clássicas, é altamente ineficiente para fazer certas coisas que demandam organização empresarial e eficiência gerencial.
O capitalismo tem pilhas de defeitos, mas, como máquina de produzir e inovar, é o melhor sistema inventado pela humanidade. Como máquina de distribuir, o Estado é necessário, tarefa na qual se sairá melhor quanto mais o capitalismo produzir e pagar impostos.
Alas fanáticas da sociedade acham que o Estado deveria fazer as duas coisas: produzir e distribuir. Porém, nas experiências verificadas quando se meteu a fazer as duas coisas, o Estado matou mais de 100 milhões de pessoas. Essa é a conta debitada aos experimentos comunistas ao redor do mundo no século 20.
Felizmente, a presidente Dilma resolveu sepultar o radicalismo contra a privatização e fez os leilões. O Estado continuará tão poderoso quanto sempre foi. Nenhuma privatização diminuirá o poder que o governo tem de impor sua vontade sobre a sociedade.
José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.