Foguete lançado pelo Hamas da Faixa de Gaza atingiu ônibus em Holon, nos arredores de Tel Aviv, segundo forças israelenses, em 11 de maio.| Foto: Reprodução / Twitter / Israel Defense Forces
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O cientista político Samuel P. Huntington, autor de O choque de civilizações, defendeu em seu livro que as identidades culturais e religiosas dos povos seriam a principal fonte de conflito no mundo pós-Guerra Fria. Hodiernamente, evidenciamos o cumprimento desse prenúncio na Operação Guardião das Muralhas, conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas. Não se trata somente de uma guerra para aniquilar o Estado de Israel (antissemitismo), mas uma “guerra santa” para exterminar judeus e qualquer outra religião que não seja o Islamismo, como declarou Fathi Hammad, membro político do gabinete do Hamas e ministro do Interior de Gaza: “vocês descobrirão que os maiores inimigos dos muçulmanos são os judeus e os politeístas”.

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Não podemos esquecer os últimos dados alarmantes levantados pela fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN): 67% da população mundial não pode expressar a própria religiosidade de forma plena. Entre os três principais fatores que limitam a liberdade religiosa aparece o extremismo islâmico, com impacto sobre 26 países e 1,2 bilhão de pessoas, desencadeando guerras e centenas de conflitos nos últimos anos e confirmando a geopolítica global de Huntington.

Segundo o Shabak, a agência de segurança de Israel, o fundador do Hamas foi o xeque Ahmed Ismail Hassan Yassin, um sacerdote espiritual, renomado líder político palestino da Faixa de Gaza. Estudou o Islã no Cairo, quando se encantou com a Irmandade Muçulmana. De volta a Gaza, tornou-se educador por mais de duas décadas. Tetraplégico e praticamente cego, locomovia-se em cadeira de rodas desde que fora vítima de um acidente esportivo, aos 12 anos. Em 1987, com a eclosão da Primeira Intifada, Yassin fundou o grupo terrorista Hamas. Em 1989, foi preso por israelenses e condenado à prisão perpétua. Em 1997 foi libertado em troca de dois agentes da Mossad, capturados em solo jordaniano quando tentavam matar outro integrante do Hamas, Khalid Meshal.

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O governo de Israel afirma que Yassin teria diretamente autorizado uma série de atentados suicidas. Em 1.º de junho de 2001, em uma discoteca ao lado do dolfinário de Tel Aviv, 21 jovens morreram e 120 ficaram feridos quando um homem-bomba detonou o explosivo atado ao seu corpo na fileira de entrada para a discoteca. O segundo atentado, em 27 de março de 2002, ocorreu no salão de jantar do Park Hotel, na cidade costeira de Netanya, em Israel: 30 pessoas morreram e 140 ficaram feridas enquanto participavam de um jantar do feriado judaico de Pêssach. O terceiro ataque aconteceu em 18 de junho de 2002, contra um ônibus público, em Jerusalém. 19 pessoas morreram instantaneamente e 74 ficaram feridas. O ônibus, totalmente destruído, levava muitos escolares. Yassin foi morto em 22 de março de 2004, aos 67 anos, em um assassinato seletivo realizado por helicópteros da Força Aérea de Israel.

O Hamas, “movimento de resistência islâmica”, é um órgão fundamentalista islâmico, grupo terrorista paramilitar, radical e sunita, que aspira estabelecer um Estado religioso palestino em vez do Estado de Israel, começando a operar nos territórios em dezembro de 1987, no início da primeira revolta. O Hamas se define – de acordo com sua carta, publicada em agosto de 1988 – como a “ala palestina” da Irmandade Muçulmana. Opõe-se fortemente ao reconhecimento e ao diálogo com o Estado de Israel e santifica a jihad (“guerra santa”) como uma maneira exclusiva de governar e dominar todo o território palestino com o radicalismo islâmico e atos terroristas.

Para o Hamas, a jihad é um dever religioso pessoal que se aplica a todos os muçulmanos. O islamismo funciona como uma teocracia absoluta e reúne devotos de Alá, inspirados pelo profeta Maomé e guiados pelo livro sagrado do Alcorão. Temos vários países no mundo regidos pela jihad, caso do Irã, inimigo imortal de Israel. Para eles, a religião não está desligada da civilização nem do Estado, sendo a mesma uma lei absoluta. Diante de seu governo autoritarista e religioso, todos que se opõem à jihad são julgados e majoritariamente condenados à morte. Assim, pela visão dos radicais islâmicos, a luta é religiosa, pois a sua civilização não é leiga e rejeita a laicidade. O islamismo autêntico não pode ver o mundo por outra ótica a não ser a de sua religião, que é, por outro lado, militante e, como toda fé desta natureza, se acha dona de uma verdade absoluta, que deve ser imposta aos “infiéis”.

O islamismo não admite uma separação entre Estado e a religião; pelo contrário, todo o universo é subordinado à sua crença. Diante desse absolutismo, o grupo terrorista Hamas e seus adeptos vivem e lutam pelo ponto de vista religioso, que subordina tudo o mais, desejando estabelecer um califado islâmico (e, finalmente, dominar Israel). Frequentemente ouvimos em diversos vídeos durante a Operação Guardião da Muralha a expressão árabe “Allahu Akbar” (“Alá é grande” ou “Alá é o maior”), uma reverência a Deus bastante utilizada entre os muçulmanos nos ataques terroristas.

A Faixa de Gaza é uma estreita região localizada no Oriente Médio, conhecida principalmente pelos conflitos entre Israel e Palestina. O território faz fronteira com o Egito e Israel e as pessoas que vivem neste local enfrentam intensas dificuldades, como falta de produtos básicos, comida e remédios. Em 1967, o território da Faixa de Gaza fazia parte de Israel, que o conquistou após a Guerra dos Seis Dias. Em 2005, a região foi entregue aos palestinos para compor o então Estado da Palestina. Além da faceta militar do Hamas – com as brigadas Al-Qassam –, o grupo terrorista que controla Gaza também é um partido político. Desde 2005, o Hamas também passou a atuar no processo político da Palestina. A organização fundamentalista tem governado a Faixa de Gaza desde 2007, após ter vencido as eleições em 2006 – e novos pleitos têm sido adiados indefinidamente desde então. A partir daquele ano, os Estados Unidos e Israel lideram sanções econômicas e políticas ao Hamas.

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Nas eleições parlamentares realizadas na Autoridade Palestina em janeiro de 2006, o Hamas conquistou a grande maioria das cadeiras do Conselho Legislativo, substituindo o Fatah (Movimento de Libertação Nacional da Palestina, fundado em 1959 pelo famoso líder Yasser Arafat) como o partido no poder. O primeiro-ministro era Ismail Haniya, uma figura sênior do Hamas na Faixa de Gaza, e o movimento se estriou para estabelecê-lo como a liderança da Autoridade Palestina. Neste contexto, o Hamas estabeleceu uma força operacional que assumiu à força a responsabilidade por toda a segurança na Faixa de Gaza, tomando-a das forças oficiais de segurança palestinas afiliadas ao Fatah. Após várias rodadas de violência interna entre agentes dos dois movimentos, o Hamas assumiu a Faixa de Gaza em junho de 2007, expulsando os membros e ativistas do Fatah de suas posições, e tornou-se a única entidade governamental em toda a região. Os palestinos passaram a conviver com restrições absurdas, como os cortes de energia e incansáveis crises econômicas. Também há restrições para atividades como agricultura e pesca. Sob o domínio do Hamas na Faixa de Gaza, os foguetes aumentaram em direção a Israel, e os esforços para contrabandear armas e a “construção de força” aumentaram consideravelmente, atualizando as capacidades operacionais do Hamas em preparação para um futuro confronto com Israel.

O Hamas, portanto, na qualidade de organização terrorista genocida e movimento nacionalista paramilitar na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, usa extrema violência com atos terroristas para alcançar os seus objetivos, com lançamento de foguetes e ataques suicidas. Dedicado ao estabelecimento de um Estado islâmico independente na Palestina histórica, o Hamas é considerado um grupo terrorista por Israel, Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, União Europeia, Japão e outras potências mundiais. O Hamas não aceita as condições propostas pela comunidade internacional para ser um ator global legítimo: reconhecer o Estado de Israel, aceitar os acordos anteriores e renunciar à violência. Para os seus adeptos e apoiadores, no entanto, o Hamas é um movimento legítimo de resistência.

A ala militar-terrorista do Hamas consiste nas Brigadas Al-Qassam. Este corpo se alimenta dos fundos do movimento, alguns dos quais são fundos de caridade (um dos mandamentos básicos no Islã), e também se beneficia de sua popularidade, obtida através da campanha Da’awa, que o Hamas construiu; este sistema inclui uma ampla rede de instituições de caridade que fornecem assistência financeira, serviços educacionais e religiosos, bem como classes de doutrinação religiosa. Esta rede é usada pelo Hamas como um recurso civil para nutrir seus apoiadores e seus principais apoiadores são Irã, Catar e Turquia.

Depois que o Hamas expulsou de Gaza as forças leais ao Fatah, em 2007, Israel apertou seu bloqueio no território; os foguetes palestinos e os ataques aéreos israelenses continuaram. Israel responsabiliza o Hamas por todos os ataques emanados da Faixa, e realizou três grandes campanhas militares em Gaza que foram precedidas por escaladas nos combates transfronteiriços. Em dezembro de 2008, os militares israelenses lançaram a Operação Cast Lead para deter ataques de foguetes. Mais de 1,3 mil palestinos e 13 israelenses foram mortos durante os 22 dias de conflito. Israel citou a mesma razão para o lançamento da Operação Pilar da Defesa, em novembro de 2012, que começou com um ataque aéreo que matou Ahmed Jabari, comandante das Brigadas de Al-Qassam. Cerca de 170 palestinos – a maioria civis – e seis israelenses morreram em oito dias de combate. O Hamas emergiu de ambos os conflitos militarmente degradado, mas com apoio renovado entre os palestinos por ter confrontado Israel e sobrevivido.

Mais um conflito em Gaza ocorreu em meados de junho de 2014, quando Israel prendeu muitos membros do Hamas em toda a Cisjordânia enquanto procurava por três adolescentes israelenses assassinados. No início de julho, o Hamas reivindicou a responsabilidade por disparar foguetes contra Israel pela primeira vez em dois anos. No dia seguinte, os militares israelenses lançaram uma ofensiva chamada Operação Borda Protetora para destruir foguetes e túneis transfronteiriços usados por militantes. Pelo menos 2.251 palestinos, incluindo 1.462 civis, foram mortos durante os 50 dias de conflito. Do lado israelense, 67 soldados e seis civis foram mortos. Desde 2014, houve surtos regulares de violência que terminaram com cessar-fogo intermediados por Egito, Catar e ONU, e não se intensificaram em guerras em larga escala. Apesar da pressão do bloqueio, o Hamas manteve o poder em Gaza e continuou a melhorar seu arsenal de foguetes. As tentativas de reconciliação com a Fatah também falharam.

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O Hamas está ficando mais popular entre os jovens, que compõem mais da metade da população da região. Por conta do constante crescimento, a Faixa de Gaza tem uma das cinco maiores densidades demográficas do mundo. O Hamas aproveita a situação caótica da região para cooptar novos integrantes, estrutura inspirada pela Irmandade Muçulmana do Egito; os novos membros são educados e formados.

Na última década, o Hamas investiu milhões de dólares na escavação de extensas infraestruturas de túneis abaixo da superfície da Faixa de Gaza, de acordo com as Forças de Defesa de Israel. Os túneis são usados pelo Hamas para emboscar o inimigo e realizar operações de contraofensiva, tudo com o objetivo de causar o máximo de dano possível aos civis, transformando áreas residenciais de Gaza em redutos militares.

Nos anos transcorridos entre as seis operações militares nomeadas, o Hamas melhorou suas capacidades. Agora, o grupo tem mais foguetes, com alcances mais longos e ogivas maiores; mais túneis, mais caças e guerra eletrônica mais sofisticada. Em guerras anteriores, os foguetes voaram até Ashdod; agora eles chegam até Tel Aviv. O Hamas melhorou suas capacidades militares e seu premiado e bem-fortificado “metrô”, a rede de túneis subterrâneos diligentemente construída nos sete anos desde a última guerra de Gaza. O Hamas surpreende o mundo com sua capacidade de disparar barragens sem parar. Em um dia conseguiu lançar impressionantes 170 foguetes em Ashkelon, em questão de horas. A capacidade do grupo terrorista de disparar quantos foguetes quisesse, quando e onde quisesse, também mostrou que o Hamas tem sofisticados sistemas de comando e controle, que permanecem intactos apesar do pesado bombardeio do IDF em Gaza.

Ainda mais impressionante, no entanto, foi o ataque aéreo de Israel, excepcionalmente bem-sucedido durante esta operação. Houve, por exemplo, o golpe de inteligência de descobrir a rota do “metrô”, e sua destruição fará retroceder o Hamas por algum tempo. Depois de um cessar-fogo “mútuo e incondicional” entre Israel e o Hamas durante a Operação Guardião das Muralhas, o jornalista Yaakov Katz, editor-chefe do Jerusalem Post, declarou que esta “está se configurando a operação militar mais precisa da história militar moderna”.

O lema dos terroristas do Hamas é conhecido: “Alá é nosso objetivo, o Profeta é nosso líder, a jihad é o nosso caminho, e a morte para Alá é nosso desejo mais exaltado”. Diante dessa “guerra santa”, o que está em curso não é uma luta entre o povo israelense e o povo palestino, mas uma cruzada entre as forças militares legítimas de Israel e a organização terrorista do Hamas em nome da religião. Mas, para os cidadãos de Gaza, a história permanece a mesma: eles vivem sob o controle de um grupo terrorista, empenhado na destruição de Israel e determinado a sacrificar seu próprio povo em uma guerra impossível de vencer.

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Lawrence Maximo, professor e escritor, é bacharel em História e Teologia, mestrando em Ciências Políticas Internacionais: Cooperação Internacional, pós-graduado em Ciência Política: Cidadania e Governação e em Antropologia da Religião, e colaborador da StandWithUs Brasil.