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Em março de 2020, quando a pandemia de coronavírus foi anunciada pela OMS, pouco se sabia sobre o vírus. Muita incerteza sobre a gravidade da doença e nenhuma perspectiva de vacina. Diante disso, poucas certezas permearam o comportamento mundial, como uso de máscaras e o isolamento social. Assim, o mundo corporativo precisou se adaptar rapidamente. O trabalho em formato home office foi adotado por diversas empresas para preservar a saúde dos funcionários e para colaborar com a redução de contaminação que estava acelerada.
A iniciativa, feita às pressas e sem planejamento devido à urgência da situação, fez com que o improviso tomasse o lugar da cadeira de escritório para muitas pessoas. Para outras pessoas, além disso, o silêncio e o ambiente de concentração foram trocados pela rotina com os filhos, que também estavam em casa pelo mesmo motivo.
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Se no início trabalhar em casa parecia ser uma realização para muitos trabalhadores, isso desencadeou uma série de problemas relacionados à saúde mental, como a síndrome de burnout. De acordo com estudo da Robert Ralf, analisando um ano de home office, 26% dos entrevistados apontaram que a sensação de equilíbrio entre qualidade de vida e trabalho piorou. Além disso, 28% dos recrutadores acreditam que a saúde mental é a maior preocupação de 2021.
Essa preocupação foi o ponto de partida para uma pesquisa do Journal of Occupational and Environmental Medicine. O estudo, publicado em março deste ano, observou um declínio na saúde física e mental dos indivíduos que fizeram a transição para o novo modelo de trabalho. De acordo com a pesquisa, os principais fatores foram mudanças de hábitos alimentares, dos relacionamentos sociais, problemas de comunicação com os colegas e aumento de distrações durante o horário de trabalho. Além disso, pessoas com crianças pequenas em casa relataram piora dos sintomas em comparação aos lares que continham apenas adultos e adolescentes.
Outro possível motivo para a exaustão dos trabalhadores em home office é o excesso de reuniões on-line. Com uma ferramenta simples que pode conectar as pessoas rapidamente, o mundo corporativo perdeu a mão. Estar diante de uma plataforma de conversa por vídeo não quer dizer que os trabalhadores estão disponíveis a todo momento para fazer uma ligação.
Diante de um modelo ainda “descalibrado”, que foi se ajustando de acordo com os feedbacks de funcionários e preocupações dos departamentos de RH, a ideia do remote work é justamente combater aquela famosa frase “esta reunião poderia ser um e-mail”. Dar liberdade para que o trabalho seja feito de forma assíncrona, sem a necessidade de todos os colaboradores estarem conectados em tempo real com a empresa ou clientes, é a chave para que a produtividade não caia e seja possível colocar um limite nessas relações.
Garantir a satisfação dos funcionários, proporcionar infraestrutura para que eles tenham um ambiente adequado para fazer o trabalho e oferecer o poder de escolha é nadar a favor da corrente.
Com o tempo, empresas com departamentos de RH sólidos se comprometeram a melhorar a experiência, analisar práticas que não estavam funcionando e, finalmente, deixar o home office engessado de lado e dar espaço ao verdadeiro remote work, modelo de trabalho mais flexível e humanizado – o empresariado entendeu que o modelo funciona, os funcionários continuam entregando e, assim, é possível enxergar um novo futuro para o trabalho presencial. Os chefes já estão entendendo que boa parte dessas interações não é urgente e que algumas respostas podem vir depois de algum tempo, sem nenhum prejuízo.
Segundo pesquisa da Salesforce, empresa global de softwares, 57% dos trabalhadores brasileiros desejam continuar trabalhando em suas casas e, com a confiança estabelecida na relação entre colaborador e empresa após meses de home office, a flexibilidade nas escolhas do modelo de trabalho aumentou, possibilitando que o sonho do trabalho remoto continue – dessa vez, da forma certa. Grandes empresas como Boticário, Facebook e Audi do Brasil já anunciaram o modelo completamente remoto, mesmo após a pandemia.
Diante de tantas empresas referência em todo o mundo mudando o rumo do formato de trabalho, quem insistir no trabalho presencial sem nenhuma negociação vai ter de lidar com um funcionário insatisfeito, e até mesmo com uma taxa de turnover altíssima. Adaptar-se à realidade não é apenas uma questão de “modinha”. Garantir a satisfação dos funcionários, proporcionar infraestrutura para que eles tenham um ambiente adequado para fazer o trabalho e oferecer o poder de escolha é nadar a favor da corrente e manter funcionários que já estão adaptados à sua cultura.
Pedro Luiz Pezoa é CEO da startup Pointer.