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Não, a personalidade política mais popular do mundo no ano não é Obama, mas Lula. O veredicto vem do jornal francês Le Monde, inaugurando uma prática que já ocorre uma vez por ano em publicações como a revista americana Time. O Le Monde, que pela primeira vez decide eleger "o homem do ano", agraciou o presidente brasileiro com a escolha. A mesma honraria havia sido concedida ao presidente dias antes na Espanha, pelo jornal El País. Na ocasião, o primeiro ministro espanhol José Luis Zapatero definiu Lula como "o homem que surpreende o mundo", e que levará o Brasil a conquistar em breve uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU.

A Time não compartilha dos mesmos critérios que o Le Monde e o El País. Nesse ano o eleito foi Ben Bernanke, o presidente do Banco Central considerado responsável pela salvação da economia americana do naufrágio financeiro. Para se ter uma ideia dos parâmetros das escolhas da Time, Hitler foi o homem do ano em 1938 e George Bush em 2004, no momento em que os EUA se embrenhavam nas duas guerras que iniciaram. Hitler é considerado um dos maiores sanguinários da história, e George Bush um excelente candidato a julgamento pelo Tribunal Penal Internacional.

A homenagem dos periódicos europeus não honra apenas a pessoa do presidente, mas todo o Brasil. Não há dúvidas de que Lula foi eleito por sua trajetória pessoal de líder sindicalista até a conquista do comando de um país continental e complexo como o Brasil, por suas preocupações sociais e ambientais, por suas qualidades diplomáticas, e sobretudo pelo atual desempenho econômico brasileiro. O Le Monde afirma que Lula revolucionou a imagem da América Latina – que se tornou um dos laboratórios políticos mais progressistas do mundo, e inseriu o Brasil em uma dinâmica de desenvolvimento, tornando-o ator essencial no cenário internacional.

A escolha de Lula também demonstra o momento importante que vive o Estado brasileiro, que fez da diplomacia uma de suas prioridades. O Le Monde inclui nas conquistas diplomáticas de Lula a condição de líder dentro do G20, de aspirante concreto a uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU e de primeiro sócio comercial da China, além de ter alçado o Brasil à condição emblemática de credor do FMI. Podemos ainda incluir nesse rol a perseverança na conquista de nossa soberania nuclear, a eleição do Brasil para ocupar uma cadeira no Conselho de Direitos Humanos da ONU, e ainda a escolha do Brasil para sediar a Copa do Mundo de 2014 e do Rio de Janeiro como sede da 1.ª Olimpíada da América do Sul, em 2016. Não é à toa que pela primeira vez na história de um país acostumado a alinhar-se às escolhas internacionais da potência hegemônica, a política externa ocupará lugar de destaque nos debates para as próximas eleições presidenciais.

Mas nem tudo são rosas. O balanço do Le Mon­­de também indica que o Brasil continua sendo um dos países mais desiguais do mundo, dividido entre um sul rico e dinâmico e um norte pobre e atrasado, que a educação primária e secundária são medíocres, que o sistema de saúde é deficiente, a burocracia pesada, a polícia ineficaz e a justiça preguiçosa. Esses são desafios que perseveram para as futuras administrações.

Não obstante, a escolha do Le Monde e do El País é bom sinal, porque revela uma mudança que é necessário aplaudir. O ano de 2009 constata a tomada de consciência da imprensa de primeiro mundo de que a política mundial não mais depende apenas dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU – EUA, Reino Unido, França, China e Rússia, além de outros desenvolvidos como Alemanha, Japão e Itália. Hoje os jornais em todo o globo apontam seus holofotes para o Brasil, Índia, África do Sul e outros emergentes.

O mundo mudou, e o Brasil não é mais apenas o país do futebol e do carnaval. Para o Le Monde e o El País, Lula é sim o "cara" – apesar da insistência da imprensa brasileira em menosprezar seus êxitos.

Larissa Ramina, doutora em Direito Internacional pela USP, é professora da UniBrasil

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