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Na genealogia dos Jobim avulta a figura do conselheiro José Martins da Cruz Jobim, um dos fundadores da Academia Nacional de Medicina, médico da Casa Imperial, deputado pelo Rio Grande do Sul e senador pelo Espírito Santo. A julgar pelas declarações recentes do ministro Nelson Jobim sobre a crise aérea, a família tem um outro conselheiro na sua ancestralidade: o conselheiro Acácio, personagem de Eça de Queiroz n’O Primo Basílio, a dizer obviedades com pompa e circunstância. Logo, logo, estará vaticinando que os passageiros dos aviões terão uma viagem absolutamente normal, a não ser que ocorra alguma anormalidade, ou que todas as pessoas chegarão em segurança a seus destinos, a não ser que ocorra um acidente fatal.

O ministro Jobim está descobrindo que no Brasil, mais do que na Itália, faz-se a lei, cria-se a forma de burlá-la e também que ele está às voltas com especialistas em burla. Anunciou a proibição de se utilizar Congonhas como aeroporto redistribuidor de passageiros (hub, na línguagem do setor), no que estava coberto de razão, pois é um absurdo transformar um aeroporto já mais do que saturado em baldeação: as companhias aéreas deram tranqüilamente a volta por cima, fingindo que os vôos começam e terminam em Congonhas e obrigando os passageiros a fazer um passeio pelo aeroporto e reembarcar. Pior ainda: ao primeiro arreganho das operadoras de turismo e das companhias aéreas apoiados pelo governo baiano, já mudou o critério de distância de destino para acomodar os vôos para Porto Seguro.

Essa história da crise aérea ainda vai acabar muito pior do que já está. Outro dia, falando neste mesmo espaço sobre as rodovias, afirmei que já estava na hora de devolver a questão da infra-estrutura viária para os engenheiros pois, com a enxurrada de brigas judiciais, liminares e cautelares, a questão rodoviária passou a ser muito mais uma questão de discussão de direito do que de gradientes, pendentes e materiais de construção. Digo o mesmo sobre a aviação: finalmente nos vimos livres do inefável Milton Zuanazzi, cujo conhecimento da aviação decorria, segundo ele, de sua experiência no mercado de turismo. Não estamos livres, no entanto, da improvisação e da falta, pura e simples, do conhecimento técnico para administrar a atividade.

Um aspecto insólito nessa questão toda é: por que um ministro da Defesa, em vez de estar discutindo as estratégias de defesa nacional e trabalhando ativamente no fortalecimento do poder de dissuasão das Forças Armadas, na análise do cenário geopolítico e geoestratégico, está às voltas com atraso de avião e ranhuras na pista? Daqui a pouco estará se metendo na escolha do sabor das barras de cereais servidas a bordo.

Enquanto isso, o Brasil vai se tornando um refém na mão de Hugo Chávez e de seu acólito Evo Morales por causa da questão energética. Pouco adianta, no curto prazo, acenar com o mar de petróleo que existe na tal camada pré-sal a 7 mil metros de profundidade, que ainda exigirá anos de pesquisa e de aperfeiçoamento tecnológico para ser extraído economicamente. Se a Bolívia, amanhã, criar algum entrave à exportação do gás para o Brasil, o país pura e simplesmente pára. Se faltar gás no Brasil, o assessor Marco Aurélio Garcia poderá tranqüilamente reeditar a sua gesticulação, dessa vez referindo-se ao que terá acontecido com todos nós, brasileiros.

O projeto do gás boliviano foi velho conhecido nos círculos do poder por várias décadas e nunca foi executado porque, expressando uma aguçada visão estratégica, o presidente Ernesto Geisel se opunha a ele com um argumento simples. Segundo seus biógrafos, ele perguntava aos defensores do investimento o que o Brasil poderia fazer se a Bolívia "fechasse a torneirinha do gás". Mandar o exército para reabrir? Claro que não. O governo FHC não teve as mesmas cautelas e agora estamos nas mãos do fiel escudeiro de Chávez, que, para "assegurar" o suprimento de gás, exigirá que a Petrobrás – depois de ter sido virtualmente expropriada dos investimentos que já fez no país, despeje outros bilhões de dólares lá. Mas quando, no futuro, ele fechar a torneira de novo (o que é mais do que certo), que faremos?

Aliás, há outro candidato a descendente do conselheiro Acácio no atual governo: o ministro das Minas e Energia, que outro dia desaconselhou solenemente os motoristas brasileiros a converter seus veículos para o gás natural. Se alguém ainda estiver pensando em converter um veículo para um combustível que o governo já está racionando, sua carteira de motorista deveria ser imediatamente cassada por absoluta falta de discernimento.

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