Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Artigo

O ideal antecede e transcende o partido político

Justificamos o que afirmamos pela nossa vivência política. Meu pai, Aldo Laval, retratou a grandiosidade de um verdadeiro político. Suas qualidades, inúmeras, eram realmente belas, fazendo com que eu o admirasse e, consequentemente, valorizasse a política. Sua vida de idealismo e bondade era admirada por todos que o conheciam. Fruto de sua humildade, honestidade, religiosidade, liderança, filantropia, lealdade, solidariedade e simpatia, refletindo o autêntico político idealista.

Contudo, era o seu dom da oratória o que mais me fascinava e orgulhava. Nas comemorações cívicas em praças públicas, nas sociedades, nas instituições religiosas, nas reuniões familiares, nas cerimônias fúnebres, lá estava ele, ativo, a proferir suas belas mensagens, poemas, orações e discursos. Era comum, nas concentrações patrióticas, as professoras advertirem as crianças: "Fiquem quietas, porque agora vai falar o maior orador de Ponta Grossa. Quando esse homem fala, todos choram!"

É oportuno registrar que foi numa dessas ocasiões que o interventor Manoel Ribas o conheceu, indagando, admirado pelo seu poder de oratória: "Quem é este moço que faz vibrar multidões?" Veio imediatamente a resposta: "Este moço manda em Ponta Grossa". Foi o suficiente para pretender nomeá-lo prefeito da cidade. Ao que Aldo Laval recusou, com as seguintes palavras: "Senhor interventor, meu desejo é lutar por todo o estado do Paraná, como deputado". Surpreso, Manoel Ribas sentenciou: "Mas que utopia, você é pobre e não conseguirá se eleger!" "Veremos", respondeu Laval. Perplexo, diante da recusa, autorizou-o a indicar um nome de sua confiança. Sem hesitar, declarou: "Capitão Mena Barreto, senhor interventor".

E as campanhas políticas prosseguiram, com candidatos de posses e muitos gastos. Chegaram as eleições, e Laval foi eleito com 50 % do eleitorado, o que motivou invejas. Quase diariamente, o jornal Diário dos Campos noticiava calúnias a seu respeito, as quais não o preocupavam, pois sua preocupação precípua era lutar pelos seus objetivos: a Caixa de Habitação Popular, a Casa do Trabalhador e o transporte coletivo.

Sendo seu partido (PTB) da oposição e minoria, o governador Moysés Lupion, que muito o admirava, sugeriu-lhe, objetivando facilitar a aprovação de seus projetos, que se aliasse ao partido majoritário, o PSD. Sem desvincular-se do PTB, que correspondia ao seu ideal, ele aceitou a sugestão do governador. Dessa maneira, seus projetos foram aprovados. Não demorou muito para surgir nos jornais a acusação: "traidor do PTB!"

Seus contemporâneos políticos chegaram facilmente ao Senado. Laval chegou somente a vice-deputado Federal, não conseguindo mais se eleger. Infelizmente, o fanatismo partidário o derrotou como candidato. Mas não impediu que seus ideais se imortalizassem. Mesmo sem o poder nas mãos, continuou sua luta com o mesmo entusiasmo da juventude, escrevendo obras, artigos para jornais, presidindo diversas entidades assistenciais e cooperativas, estabelecendo contatos com autoridades e em repartições públicas, interessando-se principalmente pelos problemas da Casa do Trabalhador.

Seu ideal trabalhista foi reconhecido pelos títulos que recebeu: Cidadão Honorário de Ponta Grossa, Cidadão Honorário de Curitiba e Cidadão Benemérito do Paraná. As declarações do deputado federal Igo Losso são oportunas: "Laval foi o grande idealizador do atual sistema de habitação, na época conhecido como Caixa de Habitação Popular. A ideia foi adotada pelo governo e representa uma das vitórias da carreira política de Aldo Laval". Este constituinte dedicou-se ao empreendimento da Casa do Trabalhador, a qual prestou serviços ao trabalhador sem qualquer discriminação. Militou também junto à Cooperativa dos Servidores Públicos. Na sua humildade, nos ofereceu lições de fé, tenacidade e perseverança como pai, esposo e cidadão consciente da importância de seu papel no processo de desenvolvimento do estado.

Laval veio a falecer aos 87 anos, como presidente da Casa do Trabalhador. Suas últimas palavras foram: "não deixem acabar a Casa do Trabalhador!"

Deusdith Laval Malucelli é pedagoga pela UFPR e concursada em psicologia.

Dê sua opinião

Você concorda com o autor do artigo? Deixe seu comentário e participe do debate.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.