A eleição americana está marcada para o dia 5 de novembro de 2024, mas se engana quem pensa que é muito cedo para prestar atenção nesse jogo. Tradicionalmente, o processo eleitoral por lá começa bem antes da data acima mencionada, de fato, muito mais cedo do que estamos habituados no Brasil. A esta altura os comitês de arrecadação e os candidatos dos dois partidos (Democratas e Republicanos) trabalham em ritmo acelerado para arrecadar fundos e custear as eleições.
Diferente do Brasil onde há espaço gratuito em TV aberta para os candidatos, nos Estados Unidos cada candidato ou comitê precisa pagar por tempo de TV para atacar adversários ou promover-se dentro de determinadas pautas. Até porque daqui menos de um ano teremos a "Super Terça-Feira", onde mais de vinte estados americanos realizarão suas eleições primárias e é um momento decisivo, pois dita o rumo das campanhas em ambos os lados.
Na próxima eleição, podemos acompanhar de perto a influência dos imigrantes brasileiros nos resultados eleitorais dos EUA
Pelo cenário que hoje se desenha, teremos primárias tanto no partido Democrata quanto no Republicanos. Do lado democrata, apesar de ter recuperado certa popularidade se compararmos com o mesmo período do ano passado, Joe Biden enfrenta uma popularidade abaixo do habitual e precisa lidar com problemas sensíveis como inflação e desemprego. A idade do atual presidente é outro ponto que pesa contra. Biden está com 80 anos. Além disso, a sua vice Kamala Harris e o governador Phil Murphy também querem entrar na disputa democrata. Após a “Super Terça-Feira” saberemos quem chegará forte no final.
Já pelo lado republicano, temos hoje a briga de dois gigantes: Donald Trump e Ron DeSantis. Mesmo com baixa popularidade e enfrentando processos judiciais, o ex-presidente Donald Trump quer voltar à presidência e deu a entender isso em publicações e participando de eventos. Neste momento, nos resta acompanhar, afinal, Trump é sempre um fenômeno e uma incógnita. No outro corner temos o jovem e muito bem avaliado governador da Flórida, Ron DeSantis, que em pesquisas recentes têm aparecido à frente de Trump em segmentos importantes do eleitorado.
Essa tende a ser uma eleição bem apertada não só para a Presidência, mas também no Legislativo e é especificamente no Senado americano que o voto brasileiro pode fazer a diferença, especialmente para os democratas. O Partido Democrata tem o comando do Senado americano, no entanto, a vantagem é bem pequena. No ano que vem, serão disputados 34 assentos no Senado, sendo que 23 pertencem atualmente aos democratas. Defender esses assentos não será tarefa fácil e perdê-los pode significar uma grande dor de cabeça para a corrida presidencial democrata. É aí que o voto do imigrante brasileiro pode fazer a diferença.
De acordo com dados oficiais, existem hoje 1,4 milhão de brasileiros vivendo nos EUA e os principais estados americanos onde essa população vive são Massachusetts (23%), Flórida (20%), New Jersey (10,4%), Califórnia (8,7%) e Nova York (7,1%). Esses estados são também tradicionalmente democratas, exceto a Flórida, e todos eles irão eleger novos senadores em 2024. Além disso, alguns senadores democratas não falam abertamente se irão concorrer à reeleição por diversos motivos, entre eles a idade avançada de alguns deles.
Em uma eleição tão incerta e importante, os imigrantes brasileiros aptos a votar (vale lembrar que são famílias, muitas com filhos americanos, imigrantes de 1ª geração) são um número considerável especialmente na Flórida e Massachusetts e podem ser decisivos para a eleição do Senado americano. Levando em consideração a preferência histórica do imigrante brasileiro por candidatos democratas e que o voto nos EUA não é obrigatório, tais números aparentemente passam despercebidos pelos comitês de ambos partidos. Com isso, na próxima eleição, podemos acompanhar de perto a influência dos imigrantes brasileiros nos resultados eleitorais dos EUA. A ver.
Erik Sales é cientista político com mestrado em Poder Legislativo pelo CEFOR da Câmara dos Deputados. Atualmente mora no Canadá e acompanha política norte-americana; Horácio Lessa Ramalho é cientista político com MBA pela FGV em Relações Governamentais, Emerging Leaders na Kennedy School, Harvard e stratégias Eleitorais nas Eleições Americanas de 2016 pela The George Washington University.
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