Quando foi decidido fazer Curitiba ser es­­colhida como sede da Copa do Mun­­do de 2014, diversos setores da cidade e do estado se uniram em prol do objetivo. E, quando a conta do projeto finalmente chegou, ninguém quis ficar responsável por ela. Afinal, a conta é grande e o projeto não é financeiramente viável, o que é regra no mundo esportivo.

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É comum em todo mundo que estádios se­­jam construídos pelo poder público, até mesmo na Europa e nos EUA, os mercados esportivos mais desenvolvidos. Na Europa, dois terços de todos os estádios do futebol são propriedades dos governos locais.

O problema em Curitiba é que, ao contrário da maioria das cidades do mundo, todos os principais estádios de futebol são privados. Portanto, se Curitiba quisesse ser sede de uma Copa do Mundo, ela precisaria obrigatoriamente usar uma área privada, independentemente de qual fosse o clube escolhido. Entre­­tanto, estádios normalmente já precisam de financiamento público direto ou indireto em qualquer situação. E quando se constrói um estádio seguindo um padrão elevado de qualidade como deman­­da a Fifa, o papel do poder público na construção fica ainda mais importante. Aparentemente, este é o grande entrave existente, uma vez que a legislação corretamente proíbe investimento público em propriedades privadas.

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Isso faz com que o Clube Atlético Paranaense fique com a conta nas mãos. Normalmente, quando um clube decide reformar ou construir um novo estádio por conta própria, ele opta pela prática da securitização do projeto, que consiste em receber dinheiro da construção em troca das receitas futuras de ingressos e camarotes. Porém, no Brasil essa opção não existe, uma vez que a demanda por ingressos é historicamente baixa e instável. Portanto restaria ao clube contrair um empréstimo tal qual o ofertado pelo BNDES. O problema é que como a reforma gerará mais custos que receitas, mes­­mo no longo prazo, qualquer empréstimo se torna uma péssima opção. Além disso, o pagamento das parcelas e dos juros implicaria menos dinheiro para contratar jogadores, o que inevitavelmente resulta na diminuição da qualidade do time, colocando em risco o lugar do clube na primeira divisão e as futuras receitas de patrocínio e televisão. Para piorar, se o clube não conseguir pagar o que deve, é possível que os próprios dirigentes tenham que dar seu patrimônio pessoal como garantia, o que torna a operação impossível.

A alternativa seria encontrar um investidor privado para bancar os custos e se aproveitar das receitas. Mas, como os custos se sobrepõem às receitas, isso afasta de vez qualquer investidor minimamente inteligente. Um investidor privado só teria interesse no estádio se ele fosse construído em uma área degradada e com baixa valorização imobiliária em que fosse possível aproveitar as grandes reformas que serão realizadas na área do estádio para ganhar com a especulação em cima de imóveis vizinhos que viriam a usufruir de uma melhor estrutura urbana. O problema é que o estádio já está localizado em uma área bastante nobre de Curitiba em que o mercado imobiliário não apenas já é inflacionado como é também bastante distribuído, fazendo com que qualquer operação imobiliária nesse sentido fique inviável.

Nada disso, porém, é novo. Se o projeto de sediar a Copa tivesse sido bem planejado, o financiamento da obra já estaria resolvido na sua própria concepção. Não seria preciso inventar malabarismos financeiros como o direito de potencial construtivo ou a aquisição dos naming rights do estádio pela Copel, que não poderá usar o nome do estádio durante a Copa, que parecem mais tentativas de transferência de responsabilidade do que propriamente alternativas viáveis.

No fim das contas, a solução é uma só: ou o poder público admite o tamanho do impasse e assume os custos e as responsabilidades da obra do estádio, ou Curitiba vai ficar sem a Co­­pa do Mundo em 2014. E que cada um se responsabilize pelo bônus e pelo ônus de suas próprias escolhas.

Oliver Seitz, bacharel em Relações Públicas, é pesquisador do Grupo de Indústria do Futebol da Universidade de Liverpool e consultor de negócios esportivos

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