A Grécia, República Helênica, berço da filosofia e da ética, passa por um longo período de crise econômica que pode resultar em sua saída da Zona do Euro, muito em breve.

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No último dia 15 de abril, a agência de risco Standard & Poor’s rebaixou a nota da Grécia para CCC+, a quarta pior nota dentre 20 níveis, indicando que o devedor tem grande risco de inadimplência. No linguajar do nosso dia a dia, é como emprestar dinheiro para aquele parente enrolado que você sabe que não lhe pagará a dívida facilmente.

Mas como a Grécia chegou a essa situação? Essa resposta é simples. É o que acontece com a família que gasta mais do que recebe. É isso que vem ocorrendo com o país mediterrâneo. Seu saldo na balança comercial acumula déficits atrás de déficits – em 2009, o rombo foi de 30 bilhões de euros; em 2014, o saldo negativo da balança foi de 17,5 bilhões de euros –, e as contas públicas estão no vermelho há anos.

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Como a Grécia não pode desvalorizar sua moeda pelo fato de estar na Zona do Euro, tem barateado seus produtos com deflação. O índice de preços ao consumidor do país está negativo por 25 meses consecutivos, desde março de 2013. Esse fato, que inclui a queda nos salários, incentivou a população a eleger um partido de extrema-esquerda, o Syriza, que levantou a bandeira do fim da austeridade fiscal.

Estariam novamente os governantes gregos querendo negar a realidade?

Teria o partido vencido as eleições com um populismo barato? Talvez sim, pois não há outra saída ao país a não ser cortar suas despesas públicas e readequar os salários à produtividade dos trabalhadores. Entretanto, não é possível desconsiderar o fato de que 25% da população está desempregada e muito insatisfeita com sua situação econômica.

Mas há outra saída: sair da Zona do Euro, voltar à dracma, desvalorizando-a para incentivar a exportação e gerar inflação para pagar as contas do governo, já que a dívida está em extraordinários 175% do PIB. Neste caminho, veremos a moratória externa e pouco desenvolvimento econômico por pelo menos mais uma década.

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Intrigante é lembrar o fato de que Sócrates foi condenado à morte, 400 anos antes de Cristo, por defender a busca pelo conhecimento. Estariam novamente os governantes gregos querendo negar a realidade? Sim, mas, saindo do euro, eles ao menos não terão a quem culpar – e poderão focar na sua própria solução, mesmo que paliativa.

Avaliando a Zona do Euro como um todo e o impacto da saída da Grécia, devemos nos preocupar, pois ela abre espaço para alguns outros países que passam por dificuldades similares (como Bélgica, Portugal, Espanha, Irlanda e Itália) abandonarem a moeda única. Isso sem falar na presidenciável francesa Marine Le Pen, que, se eleita, promete fazer um referendo para a França sair da Zona do Euro. A jovem moeda poderá entrar em decadência antes mesmo de chegar à adolescência, e o eixo monetário do planeta se movimentará, mais uma vez.

Raphael Cordeiro é consultor de investimentos, sócio da Inva Capital, coordenador do curso de EAD em Finanças Pessoais da Universidade Positivo e autor do livro O Sovina e o Perdulário.