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Devagar, devagarzinho, com paradas para o descanso e o fim de semana na Granja do Torto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai compondo o governo para o segundo mandato e burila o estilo do repeteco.

A montagem para a arrancada dos grandes planos ainda neste ano e nos próximos três impôs barganhas políticas para cimentar a base parlamentar de apoio. Ora, a base está aí, sólida como a pedra da Gávea, com adesões preciosas que custaram ministérios, secretarias, autarquias e o rateio dos valorizados cargos no segundo escalão.

Depois, de onde se espera e também de onde nada se espera, pipocam as crises. Para colar os cacos da confusão armada no Ministério do Meio Ambiente pela tinhosa ministra Marina Silva foi preciso habilidade e paciência. O foco que ainda lateja fixou-se no Ibama com a anunciada saída do seu presidente, Marcus Barros, e que provocou o pedido de afastamento dos diretores, com ele solidários.

Da disposição radical de extinguir o órgão, temperada pelo risco das repercussões internacionais, Lula balança no meio: insiste nas licenças para a construção das usinas hidrelétricas na bacia amazônica e tenta frear a influência das ONGs no Ibama e junto à ministra Marina Silva. O tempo passa, engole os prazos para o início das obras e a geringonça dá voltas, não sai do lugar.

O mal-estar contamina áreas do governo, atinge em cheio a ministra Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil e se propaga pela fatia oficial responsável pelo êxito do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), que não pode esperar mais.

Se o presidente mantém o sorriso, esbanja confiança e tranqüilidade, o reverso da medalha renova advertências. O Executivo não está sozinho no pântano: conta com a companhia dos 81 senadores e 513 deputados federais que representam 1% da população, segundo o índice vexaminoso das últimas pesquisas.

O Judiciário amarga o constrangimento das denúncias que atingem ministros com a revelação, pela Polícia Federal, das conversas gravadas entre o ministro Paulo Medina, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), com o advogado Eduardo Almeida de Mello, ex-diretor do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais, em que discute e antecipa o voto que deveria dar no pedido de habeas-corpus em favor de diretor do Minas Tênis Clube, de Belo Horizonte, denunciado por usar carteira falsa de policial.

Com tantos problemas a apoquentá-lo, o presidente Lula deu tratos à bola e encontrou a saída pela vereda da singularidade. Como o seu ministério é do modelo do coração de mãe – que tem sempre lugar para mais um – o presidente rendeu-se à trela do professor Mangabeira Unger, no embalo emotivo pela reconciliação que apagou ofensas e agravos dos mais contundentes e decidiu presenteá-lo com o crachá de ministro.

De 35 ministros e secretários, o pulo para 36 foi selado na hora. A facilidade da improvisação antecipou-se aos eventuais embaraços: Mangabeira Unger foi sagrado ministro-secretário da Secretaria de Ações a Longo Prazo. Como presidente de honra do PRB, partido aliado e ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, divide o mimo com o Bispo Macedo e o vice José de Alencar.

De quê vai cuidar o secretário e a Secretaria não se sabe. Mas, na toada do longo prazo, a posse foi adiada lá para o fim do mês, depois da volta do catedrático de rápida viagem aos Estados Unidos para licenciar-se nas universidades em que é professor há dezenas de anos.

Longo prazo para o governo com três anos e oito meses do segundo mandato soa tão estranho como o sotaque do titular, que fala o português do turista americano perdido em Copacabana.

Villas-Bôas Corrêa é analista político.

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