O jornalismo on-line talvez seja a fonte de notícias mais consumida com a popularização da internet. O volume de informações oferecido em portais, blogs e por formadores de opinião é quase incalculável. Por mais que a construção e a técnica jornalística utilizadas sejam diferentes do jornalismo tradicional impresso, o fim é o mesmo: informar.
A proposta de construção em blocos desenvolve no leitor a capacidade de construir a sua própria leitura da informação, resultado do abandono da tradicional “pirâmide invertida”. Isso não significa que o jornalismo digital tenha como consequência a distorção da informação – o nome disso é fake news.
Interessante imaginar como uma fonte de conteúdo verdadeiro e de qualidade – que pode ser tão rica em informação com a combinação de texto, vídeo, infográfico, links e tantas outras estratégias de fornecimento da informação – consiga ser confundida com conteúdo que, se passasse por um senso crítico sincero, jamais seria levado como verdade.
Desconfiar e checar é a melhor prática
Em tempos de redes sociais que formam opiniões com o compartilhamento de notícias – verdadeiras ou falsas –, o senso crítico do leitor ganha ainda mais importância para combater a desinformação. A desinformação pode ser resumida em uma palavra: confusão. Suprimir uma informação ou tentar minimizar o seu efeito é um conceito um tanto ultrapassado. Hoje, a melhor definição da desinformação, especialmente na política, é fazer que as pessoas acreditem em falsas informações ou esconder a verdade para uma mudança de opinião ou reforço de uma ideia.
Não à toa a imprensa mundial – na figura dos veículos com mais credibilidade – está combatendo ferozmente e em conjunto os estragos causados pelas fake news. O historiador britânico Ian Mortimer, autor do livro Séculos de Transformações, disse recentemente em entrevista à BBC News Brasil que “o perigo de notícias falsas e mentiras é maior hoje do que era no passado. Acho que a verdade vai se tornar muito mais importante à medida que o século 21 avança”. Já o pesquisador americano Jason Reifler, também em entrevista à BBC News Brasil, comentou sobre o comportamento das pessoas ao se depararem com notícias falsas. “O que descobrimos é que, em uma pequena parcela da nossa amostra [de entrevistados], as pessoas que recebiam informações contraintuitivas das quais elas não gostavam acabavam apenas fortalecendo sua posição inicial. As novas informações somente as faziam refletir sobre argumentos favoráveis a sua própria convicção”.
Carlos Alberto Di Franco: Fake news versus qualidade (3 de junho de 2018)
Leia também: Fake news e crimes eleitorais (artigo de Gustavo Athayde e Luís Sfier, publicado em 18 de julho de 2018)
O leitor pensa que a questão é educacional e que, por isso, países de terceiro mundo como o Brasil estão ainda mais à mercê? Pois está enganado. Uma pesquisa da Universidade de Stanford apontou, em julho deste ano, que estudantes norte-americanos tiveram problema para checar a credibilidade das informações divulgadas na internet. Dentre 7.804 alunos dos ensinos fundamental, médio e superior, 40% não conseguiram detectar fake news.
Por isso a ofensiva contra fake news iniciada pelos mais tradicionais grupos de comunicação depende da boa vontade, bom senso e capacidade crítica dos leitores. Construir um conteúdo didático, acompanhar cada nova desinformação que ganha força e desmenti-la com fatos, produzir notícias que tragam o leitor para a construção da sua própria leitura – característica principal do jornalismo digital –, é apenas uma das etapas. A educação virtual começa por aí. Mas não acaba aqui.
Não há outro caminho para as pessoas a não ser contribuir com esse combate. Desconfiar e checar é a melhor prática. O melhor é pesquisar no Google se aquela notícia está sendo comentada em veículos com credibilidade. Se não estiver, é bom ligar o alerta. Busque se informar com quem produz informação confiável. O trabalho do jornalismo digital em parceria com a sociedade será de médio a longo prazo. Não há dois lados certos quando o assunto é fake news. Aqui o resultado final é objetivo: ou todos ganham ou todos perdem. Não há meio termo.
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