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A pesquisa O Jovem e o Trânsito, realizada pelo Ibope a pedido da Perkons, Programa Volvo de Segurança no Trânsito, Ministério da Saúde e Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (Sbot), divulgada esta semana dentro da 1.ª Semana Mundial de Prevenção de Acidentes de Trânsito das Nações Unidas, revelou mais que o comportamento do jovem no trânsito. Mostrou a necessidade da imposição de limites e de um método mais eficaz para mudar as ações desses jovens, que levam a um resultado alarmante. Relatório apresentado pela ONU no último dia 19, em Genebra, revela que 1,2 milhão de pessoas morrem anualmente vítimas de acidentes de trânsito. Jovens de até 25 anos correspondem a um terço desse total. Já no Brasil, segundo o Denatran (2005), são 27% (jovens entre 18 a 29 anos) e eles estão envolvidos em 35,44% dos acidentes.

Mas qual seria esse método? A resposta vem, em parte, dos próprios jovens, quando questionados na pesquisa sobre o que poderia ser feito para desenvolver um comportamento mais seguro do jovem no trânsito. As respostas eram livres e, no entanto, um quarto dos jovens disse a mesma coisa: campanhas educativas para conscientização do jovem. Em segundo lugar, com 8%, foram citadas leis de trânsito com punições mais severas e, em terceiro, aumentar a fiscalização de trânsito (6%).

Sabemos que nosso Código de Trânsito Brasileiro já é adequado para atender às questões de segurança no trânsito. Isto já foi até internacionalmente reconhecido. Porém, restam campanhas e fiscalização mais eficazes. Os jovens, como ficou claro na pesquisa, admitem ter atitudes agressivas no trânsito provocadas pela pressa, adrenalina e bebida, mas esses mesmos jovens pedem limites mais ousados para mudar esse comportamento.

Na pesquisa, alguns jovens sugerem trocar as multas por penalidades mais severas. Em São Paulo, inclusive, alegou-se que punições como pintar faixas de trânsito, sinalizar ruas com bandeirolas, consertar semáforos são mais eficazes que a aplicação de multas em dinheiro. Até porque, como a pesquisa evidenciou, muitos utilizam o carro dos próprios pais para cometer as infrações e estas acabam sendo pagas pelos pais mesmo.

Este é um recado importante a ser compreendido e aplicado. Nós, os "velhos", os responsáveis por mudanças nas leis, pelo desenvolvimento de novos equipamentos de segurança, pela fiscalização do cumprimento das regras, temos que entender que jovem fala com e para jovem. É por isso que campanhas como o Vida Urgente, da Fundação Tiago Gonzaga, e o Programa Madrugada Viva, do Detran/ES, para citar apenas dois exemplos, dão resultados. O álcool é um dos grandes responsáveis pela alta velocidade e, conseqüentemente, pelos acidentes de trânsito. Os jovens mesmos sabem e apontaram isso. Nestas campanhas, o grupo que aborda os jovens dentro dos bares e em seu caminho de volta para casa nas madrugadas, depois da "balada", são grupos formados por jovens também. No Espírito Santo, este programa já ajudou a reduzir em 81% o número de mortes nas ruas e rodovias do estado.

Mas o papel dos pais também é fundamental nesse processo. A pesquisa revelou que um em cada cinco jovem dirige sem carteira de habilitação e aprendeu a dirigir com anuência dos pais. O "começar em casa" tem que acontecer. Recusar-se a simplesmente pagar a infração, sem maiores conseqüências, ir além do "sermão" e eles mesmos atribuírem uma penalidade que implique em algum custo relevante para o jovem, é fundamental para conscientização e mudança de comportamento.

As campanhas educativas também precisam ser aprimoradas para que mexam e fiquem mais na memória dos jovens. Precisam ser tão boas quanto as propagandas de cerveja! Hoje o bacana para o jovem, quando está agrupado, é desafiar a lei. Eles mesmos revelam que estando com outros jovens o comportamento é mais crítico, propenso à alta velocidade. As campanhas devem inverter esta lógica, fazendo com que o bacana vire o respeito às leis e que o fazer errado vire motivo de piada entre eles.

Com os dados da pesquisa em mãos, vem a próxima etapa do trabalho: a de ir além da discussão do que o jovem é no trânsito, a de implementar meios de torná-lo um jovem mais consciente das suas ações para que então seja possível mudar as estatísticas. Esse é o papel do governo, legisladores, das empresas que investiram na pesquisa e em tantos outros projetos de educação no trânsito. É esse o papel de cada um de nós enquanto cidadão e pais, coerentes com a educação que devemos ter dado a nossos filhos.

José Mario de Andrade é diretor da Perkons, empresa de desenvolvimento de tecnologia no trânsito.

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