Todas as previsões feitas em relação ao impacto da crise financeira internacional na economia brasileira se mostraram excessivamente otimistas. Hoje, já se fala em um crescimento nulo ou negativo para a economia brasileira em 2009.
No entanto, uma coisa fica ainda mais clara da atual situação de crise mundial: o bom crescimento do Brasil entre 2004 e 2008 se reflete agora no seu fraco desempenho. Ou seja, os seus principais motores foram, até setembro do ano passado, o bom desempenho do setor exportador, puxado pelo crescimento da renda do resto do mundo, e a elevação da demanda interna (consumo e investimento) devido ao avanço do crédito e da própria renda doméstica. Agora, com a recessão mundial, todos os países compram menos, inclusive do Brasil! O outro ponto relevante é a restrição no crédito em esfera internacional.
O desempenho do setor exportador tem se deteriorado rapidamente, com efeitos negativos nas expectativas dos agentes econômicos, reduzindo o nível da demanda agregada. Esse efeito aliado à falta de crédito tem se mostrado muito perverso principalmente na decisão dos empresários em relação ao montante de investimentos.
As exportações, em janeiro de 2008, ficaram acima de U$ 13 bilhões, enquanto que, em janeiro de 2009, elas ficaram abaixo de U$ 10 bilhões. Já a formação bruta de capital fixo (medida de investimento produtivo), no último trimestre de 2008, sofreu uma redução de 8,5% quando comparado ao último trimestre de 2007 e de 13,5% em relação ao trimestre anterior. Algumas evidências apontam que os dois primeiros trimestres de 2009 não serão muito diferentes.
Para que o cenário não piore ainda mais, é preciso que ocorra uma intervenção governamental mais enérgica no sentido de compensar a queda do consumo e, principalmente, dos investimentos. Existem dois meios de se fazer isso: via elevação dos gastos do governo e/ou corte dos impostos (política fiscal expansionista); e redução da taxa de juros (política monetária expansionista).
No entanto, o atual governo federal não aproveitou o período de elevado crescimento para reduzir a dívida pública interna, com um comportamento semelhante ao da "cigarra". Ou seja, ele agiu como se o alto crescimento fosse perseverar indefinidamente e aproveitou para elevar seus gastos em uma velocidade ainda maior do que o próprio crescimento da economia brasileira.
Assim, o uso de uma política fiscal expansionista não seria a melhor opção, ainda mais quando se considera que em períodos de crise ocorre uma queda natural na arrecadação de impostos. O próprio governo calcula uma arrecadação neste ano R$ 48,3 bilhões menor que a prevista no orçamento de 2009.
"Felizmente", ainda existe a possibilidade de se reduzir os juros visto o elevado patamar em que eles se mantiveram nos últimos anos. Apesar das duas últimas reduções de 1,0% e 1,5%, ainda existe uma margem considerável para que eles se reduzam ainda mais (atualmente está em 11,25% ao ano). Enfim, parece que colhemos um benefício dos juros altos: eles nos deixaram com margem de manobra para agir agora.
Pela magnitude das duas últimas reduções pode parecer que o Banco Central do Brasil se tornou mais "agressivo" na sua condução da política monetária. No entanto, quando se pondera pela possibilidade de que a economia brasileira entre em uma recessão prolongada, percebemos que ele continua tão conservador quanto antes.
Agora seria a hora de aproveitar essa margem de manobra da política monetária para uma redução mais rápida da taxa de juros, reduzindo as chances de ocorrência de uma recessão mais prolongada na economia brasileira. Medidas como essa poderão ser inócuas se tomadas tarde demais.
Luciano Nakabashi, doutor em Economia, é professor do Departamento de Economia da UFPR e coordenador do boletim de Economia & Tecnologia. luciano.nakabashi@ufpr.br