O mês de setembro vem sendo marcado pela divulgação de indicadores de recomposição da saúde financeira dos agentes econômicos atuantes no país. Observou-se contração das solicitações de falência e recuperação judicial (de 10,2% e 8,4%, respectivamente) no ano findo em agosto de 2017, conforme apurações da Boa Vista SCPC, ente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), e da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL).
Houve igualmente a diminuição do passivo corporativo, fortemente influenciada pela realização de ajustes, por parte das empresas, centrados em venda de ativos, redefinição de linhas de produção, fechamento de unidades menos rentáveis, reposicionamento no mercado e substituição de papéis com vencimento em curto prazo por bônus de longo termo, coadjuvados pelo benefício proveniente da macroeconomia, expresso na apreciação do real.
Levantamentos da consultoria Economatica constataram declínio de 1,4% no montante global das dívidas das empresas que possuem ações transacionadas em bolsa, no primeiro semestre de 2017, o que constituiu o primeiro recuo para o período em seis anos. Ressalte-se que as estatísticas não incorporaram a queda de 11% registrada pela Petrobras em idêntico intervalo.
É impossível enxergar sinais de recuperação robusta do crescimento
Especificamente para o universo de companhias integrantes do Ibovespa, o horizonte temporal para a eliminação das dívidas, estimado com base na capacidade de geração de caixa, caiu de 3,7 anos, em 2015, para 2,1 anos, no segundo trimestre de 2017. Ainda assim, a estimativa superou a média histórica de 1,5 ano.
No entanto, mais de 46% das companhias de capital aberto estão desprovidas de condições financeiras para honrar os compromissos, em um ambiente de escassez e maior seletividade na oferta de crédito e diminuta confiança, atrelada às incertezas quanto ao avanço das reformas estruturais e à restauração das condições de estabilidade política no país.
Nessas circunstâncias, parece razoável supor que, ao menos na economia, o pior já passou, aspecto reforçado pelo rompimento da barreira nominal dos 75 mil pontos pelo Ibovespa, motivado pela conjugação entre descida dos juros, perspectiva de privatização da Eletrobras e apostas no equacionamento do imbróglio político, por ocasião das eleições de 2018.
Não obstante, é impossível enxergar sinais de recuperação robusta do crescimento. Até porque o índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma espécie de cálculo preliminar do Produto Interno Bruto (PIB), cresceu apenas 0,14% entre janeiro e julho de 2017, em comparação com igual tempo de 2016.
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Na verdade, a fabricação de um motor de arrasto dos negócios está fortemente prejudicada pela enorme capacidade ociosa acumulada pelo setor industrial ao longo dos três anos de recessão; pela precariedade da recomposição do mercado de trabalho, amparada na impulsão da informalidade; e pelo atraso das inversões em infraestrutura, explicado pela falência do Estado e pela natureza embrionária das ações voltadas às privatizações e concessões, ocupando mais o terreno das intenções.
Embora seja alentador o fato de que as apreciáveis margens de ativo fixo sem utilização favorecem, em tese, a reativação dos níveis de atividade sem a produção de pressões inflacionárias, a concatenação entre falência do Estado e pauperização da infraestrutura comprometeu, de forma irremediável, o potencial de crescimento de médio prazo da nação.
O mais preocupante, porém, é o poder destrutivo das frequentes e crescentes hecatombes proporcionadas pela Praça dos Três Poderes, em Brasília, ocupada por entes famintos por verbas oriundas da arrecadação de impostos e resistentes à formulação e negociação política das reformas indispensáveis à promoção do rearranjo das finanças públicas e ao resgate das condições mínimas de eficiência da microeconomia brasileira.
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