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Opinião do dia 1

O Lula do B

O discreto marqueteiro do candidato tucano, Geraldo Alckmin, deve ser o mesmo que substituiu o Duda Mendonça, depois do estouro do caixa 2 e do entupimento do valerioduto, na campanha para a reeleição do presidente-candidato Lula.

Só assim se explica a absoluta semelhança dos dois programas no horário eleitoral, não apenas na linguagem, mas no carbono tático que decalca o Lula na estranha montagem do Lula do B, suave dissidência, a serviço da causa comum.

Não se encaixa a desculpa de erro estratégico em categoria de celebrada competência, recompensada com malas recheadas de dólares. No caso, as suspeitas rondam o estrategista da oposição, com respingos no candidato e no comando dirigente da campanha.

Mas, que intriga, intriga. E muito. Pois que se trata de cincada primária, inaceitável e transparente. Aos fatos: o presidente Lula é candidato a bisar o mandato e, portanto, o mote de sua campanha é, e só pode ser, convencer o eleitor petista ou indeciso, a votar no candidato que promete mais quatro anos de bonança, com o Bolsa-Família matando a fome dos pobres; o salário mínimo nas alturas das mordomias parlamentares, o país em ordem e segurança e transformado num miraculoso canteiro de obras. É na tecla certa que a campanha e o candidato vêm batendo, com o sucesso que as pesquisas registram ao apontar para a reeleição no primeiro turno, com a ascendente maioria absoluta dos votos válidos.

Ora, se esta é a vereda do candidato a dobrar o mandato, a linguagem firme do adversário teórico só pode ser a trilha oposta: denunciar, exibir, mostrar, provar os erros e omissões de Lula. Pois, ou os três anos e 10 meses do expirante mandato de Lula foi um fracasso ou não há espaço para a oposição descoroçoada pela antecipada certeza da derrota.

As críticas à linguagem contida e elegante do candidato da dupla PSDB-PFL, com as primeiras ranhuras cearenses do oportunismo, podem ser procedentes, mas não chegam ao miolo do desacerto.

O buraco é mais fundo e escuro do que a cegueira. Nos programas inaugurais, com os solavancos das quedas nas pesquisas, o polido discurso do ex-governador Geraldo Alckmin – com profusão de imagens de seu governo em São Paulo, com a inauguração de viadutos, de nova linha do metrô, de hospitais, escolas, conjuntos residenciais para os pobres, de restaurantes que servem quitutes a um real – tenta empatar com a autolouvação lulista. Com as mais óbvias desvantagens. De logo, Lula endereça recados para o eleitor em todo o Brasil, enquanto o seu extraviado adversário passa a sensação de que é candidato a governador de São Paulo. Não alcança os grotões do Norte, do Nordeste, do Centro e chega palidamente ao Sudeste e ao Sul

Ora, o eleitor de Lula ou o que se equilibra no arame da hesitação é induzido à intuitiva conclusão de que, se os dois são iguais, por que trocar de candidato?

A campanha na toada de uma nota só, como de candidato à vice de Lula esqueceu, no sótão da memória, a crítica aos aspectos negativos do governo desconjuntado, com trinta e tantos ministros e secretários, muitos amoitados em esperto anonimato e com tantos buracos quanto à rede rodoviária em petições de miséria. Ou os portos com filas quilométricas de caminhões, com imensos prejuízos para os produtores.

O cruel abandono da saúde, com os doentes morrendo nas noites de espera ao relento. E, o amplo painel da decadência das cidades sem segurança, superpovoadas com a migração do interior e ao abandono, que se espalha pelas favelas, dominadas pelas gangues do tráfico.

Nada que fustigue o interesse e a indignação do candidato oposicionista. E que já perdeu a bandeira da denuncia da corrupção – que corrói o Legislativo e o Executivo, cúmplices na orgia do caixa 2, do mensalão, dos sanguessugas ou do alarmante e didático escândalo de Rondônia – assumida pelo Judiciário, que ocupou o oco da leniência da frouxa presidência da Câmara e da lerdeza paralítica do Senado.

Correndo por fora, sem a sustentação do PSOL em formação, a senadora Heloísa Helena vai comendo pelas beiradas o mingau morno da oposição.

E, se ainda não ameaça, assusta os aturdidos tucanos e pefelistas que não sabem o que fazer com o candidato que parece o clone de Lula.

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