No caso do dr. Francisco Cunha Pereira Filho a afirmativa de que "deixa uma lacuna" não é apenas uma frase feita. Isto porque realmente vai ser difícil aparecer alguém em condições de preencher, com o mesmo brilho e principalmente o mesmo ardor, o espaço que ele criou e ocupou ao longo de mais de meio século. É o espaço da liderança sempre à frente nas lutas em favor dos interesses maiores do nosso estado, ao ponto de tornar-se sinônimo do paranismo, que tanto difundiu e defendeu.
A lembrança que guardo dele é a de um homem cordial, elegante, solidário, respeitador e amigo. Foi grande empreendedor. Formou um patrimônio respeitável, mas, no meu entender, o maior legado que deixou foi o exemplo de trabalho, competência e, acima de tudo, admirável amor pelo Paraná.
O dr. Francisco valorizava o trabalho e quem trabalhava pelo país. E estava sempre atento às realidades do nosso estado. Lutava, incansavelmente, por interesses econômicos da maior magnitude para o Paraná, como o fez, com invulgar empenho, até a vitória, pelos royalties de Itaipu. Mas também era capaz de se dedicar a iniciativas simpáticas como a campanha "Bicho do Paraná", visando a reconhecer e exaltar os talentos artísticos da nossa terra.
Homem culto e com visão de futuro, estava sempre pronto para defender o Paraná e reivindicar tudo o que resultasse no aprimoramento do ensino, abertura de novas escolas ou na introdução de avanços tecnológicos. Da mesma forma, tinha a visão e a sensibilidade para os problemas sociais que enfrentamos e se empenhava na solução deles. Praticamente, nas últimas décadas, não houve uma mobilização relevante, em defesa de benefícios ou solução para problemas do nosso estado, na qual não estivesse à frente.
Nunca me esqueço da ação que desenvolvemos juntos, com sucesso, pela reativação da usina do xisto, em São Mateus do Sul. Governador do estado, recebi a notícia de que a Petrobras simplesmente decidira encerrar o Projeto do Xisto e desativara a usina onde extraía petróleo das rochas. Chamei o dr. Francisco e imediatamente voamos para o Rio de Janeiro.
Na sede da Petrobras, de nada adiantou nossa argumentação em torno de todos os aspectos positivos do projeto. A resposta da diretoria foi de que a decisão era irreversível. O projeto estava sepultado e a usina definitivamente desativada. Não desistimos e nem esperamos. Seguimos no mesmo dia para Brasília, onde, à noite mesmo, fomos bater à porta do presidente José Sarney, em sua residência no Palácio Alvorada. Sempre com o apoio do dr. Francisco, afirmei que o Paraná não podia abrir mão da usina, lembrando sua importância para o estado e para o país. Sensível, o presidente cedeu ao nosso apelo. No dia seguinte pela manhã estávamos de volta ao Paraná, levando conosco, no avião do estado, o ministro das Minas e Energia, Vicente Fialho. A cidade de São Mateus do Sul nos recebeu com fogos, cartazes e uma grande faixa: "Esta chama não vai se apagar."
Hoje, estou convencido de que, mais do que a da usina de São Mateus, nunca há de se apagar a chama do paranismo, acesa e com tanta firmeza e entusiasmo conduzida por mais de meio século por essa figura invulgar e inesquecível que foi o advogado, empresário e, acima de tudo, jornalista dr. Francisco Cunha Pereira Filho. O mais paranista dos paranaenses, em todos os tempos.
Alvaro Dias é senador e ex-governador do Paraná.