Dores crônicas, dificuldade de acesso ao médico, facilidade na obtenção dos medicamentos, hábito... os motivos são variados, mas todos levam a um comportamento comum: a automedicação. O problema é grave no Brasil. O Ministério da Saúde está realizando uma pesquisa ampla para mensurá-lo, mas estatísticas já existentes dão pistas de sua dimensão.
De acordo com o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), o Brasil registrou quase 60 mil internações por intoxicação medicamentosa nos últimos cinco anos. No ano de 2010, foram 27.710 pessoas internadas. Somente no Hospital das Clínicas de São Paulo, são 600 ao mês. Ainda segundo o Sinitox, os medicamentos estão entre os três principais agentes causadores de intoxicações em seres humanos desde 1996. Estatísticas internacionais apontam o Brasil como 3.º colocado em casos de intoxicações por medicamentos no mundo.
Os números mostram que os casos são frequentes, mas a população demonstra não estar atenta aos riscos da automedicação. Foi o que constatou o Conselho Federal de Farmácia (CFF) em uma ação promovida em São Paulo, no dia 18 de dezembro. Todo o trabalho foi filmado e transformado em um vídeo que começou a ser divulgado desde a última segunda-feira, dia 20, quando se comemorou o dia do farmacêutico.
Inspirado em uma campanha da Confederação Farmacêutica Argentina (Cofa), o CFF produziu um medicamento fictício e o distribuiu a mais de 4 mil pessoas, na esquina das avenidas Paulista e Consolação, um dos pontos mais movimentados da capital paulista. Tudo foi feito como se fosse um medicamento real. Observadores verificaram e registraram a reação das pessoas. A maioria aceitou passivamente o "produto", sem nada questionar.
Quase ninguém (0,35%) indagou quem era o fabricante. Menos de 1% perguntou se o suposto medicamento tinha alguma contraindicação, e 14,96% quiseram saber qual era sua indicação, o que revela certo interesse pela sua utilização posterior.
No Brasil, os medicamentos isentos de prescrição médica já tiveram o acesso mais restrito ficavam atrás do balcão das farmácias. Mas, em julho de 2012, foi autorizada sua migração para as gôndolas. O consumidor os tem ao alcance da mão. Pode escolhê-los como faz com chupetas, absorventes e desodorantes.
O CFF busca disseminar a consciência de que mesmo medicamentos para os quais não é exigida a receita médica podem causar problemas graves. Apenas para citar um exemplo, descongestionantes nasais de uso tópico ou sistêmico podem induzir crise hipertensiva e até desencadear acidente vascular cerebral, o temido AVC, em pessoas hipertensas.
Nossa mensagem é a de que o paciente não só evite a automedicação, como consulte sempre um farmacêutico ao utilizar medicamentos. Ele é o profissional da saúde com conhecimento técnico-científico para contribuir efetivamente na prevenção de doenças, na promoção e recuperação da saúde, o que leva a resultados concretos na melhoria da qualidade de vida e dos serviços de saúde ofertados à população.
Walter Jorge João é presidente do Conselho Federal de Farmácia (CFF).
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