Uma das tragédia de grandes proporções por que o país tem passado nestes últimos dias demonstra uma das mais honradas atitudes de cidadania que podem existir entre os humanos. O derramamento de petróleo no oceano de forma criminosa em todo o Nordeste brasileiro está servindo de exemplo para aqueles que pensam que o povo nordestino não passa de pobres coitados. A omissão do atual governo em não socorrer toda essa região fez com que a população local tomasse uma honesta atitude: ajudar urgentemente a preservação do meio ambiente retirando o óleo despejado sobre a vegetação e os animais marinhos da região.
Mesmo tendo uma perspectiva adversa, este povo e seus preceptores lutam para valorizar a educação
Alguns dirão que isto, de certa forma, é uma maneira de amenizar os prejuízos dos pescadores, do turismo e de toda uma população que sobrevive desse tipo de negócio. Minha experiência nestes últimos anos, com viagens frequentes ao litoral baiano, permite afirmar de forma vigorosa que o povo nordestino dá um show de comprometimento com o seu território e a educação em comparação com o restante do país. São pessoas simples, acolhedoras, inteligentes e, acima de tudo, uma população que sabe aonde quer chegar, indivíduos que buscam o conhecimento e valorizam a educação.
Dados recentes do ensino fundamental mostram que, entre as dez capitais que mais desenvolveram os anos iniciais, seis eram do Nordeste (Teresina, Maceió, Salvador, Recife, Fortaleza e Aracaju). Além disso, duas das capitais brasileiras que atingiram o índice de 6 pontos no Ideb em suas redes municipais dos primeiros anos do ensino fundamental também são nordestinas (Teresina e Fortaleza). Para se ter uma ideia, em 2013 havia somente uma capital em todo o país com esse índice, Florianópolis; agora, são oito capitais, contando com o salto dado pelo Nordeste. A nota 6 é a meta que o país tem de atingir em 2021, número considerado como patamar mínimo de qualidade pela ONU. Importante conquista, pois sabemos que essas regiões têm resultados baixos no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) justamente por falta de investimento público em moradia, saneamento básico e saúde pública, entre outros serviços.
- Os gargalos das energias renováveis no Nordeste (artigo de Marcelo Gonçalves, publicado em 10 de setembro de 2019)
- ICMS, guerra fiscal e desenvolvimento regional (artigo de André Medeiros, publicado em 18 de agosto de 2017)
- Os riscos que a mancha de óleo traz à população (artigo de Marcia Hirota, publicado em 23 de outubro de 2019)
A postura de investimento na educação como forma de encurtar a desigualdade por parte dos governos estaduais e municipais da região nos ajuda a compreender o exemplo de moralidade. Mesmo tendo uma perspectiva adversa, este povo e seus preceptores lutam para valorizar a educação; as escolas, aos poucos, vão conquistando resultados categóricos que não são repetidos por todas as capitais do Sul e do Sudeste. Isto demonstra que há uma acomodação das regiões mais ricas em termos financeiros com péssimos resultados, efeito muito mais do sistema econômico que da ciência escolar.
Thales Aguiar é jornalista e escritor.
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