Em outubro a palavra brinquedo nos invade o pensamento, espontânea ou induzidamente. Mas nossos pequenos não são bolas, apesar de serem jogados a todos os lados...
O número de crianças vagando pelo mundo em busca de um lugar para viver é imenso. Dos 65 milhões de pessoas que buscam refúgio em função de guerras e conflitos armados, a metade é de menores de 18 anos. Neste ano, Berlim já recebeu mais de mil menores refugiados desacompanhados, afirma Robin Schulz-Agie, da ONG Save the Children, que admite não ter estrutura para lidar com esta quantidade. Na Suécia, o número é de 700 crianças e adolescentes que chegaram sozinhas ao país. Só em 2016.
De acordo com a Unicef, existem mais de 8 milhões de crianças abandonadas no Brasil. Destas, 2 milhões estão nas ruas, sem abrigo, comida e dignidade. A Polícia Militar recebe centenas de ligações sobre abandono de menores todos os dias. O abandono é a maior causa de violência contra crianças de até 9 anos.
Toda criança carrega o peso da infância para o resto de seus dias
Estatísticas à parte, nos deparamos com o outro lado da moeda: crianças supersaturadas de brinquedos e consumismo por todos os poros, em uma fase da vida na qual não são capazes de pensar de forma crítica e autônoma sobre este mundo de produtos que lhes invade a vida. O que presentear a uma criança?
Toda criança carrega o peso da infância para o resto de seus dias. Pela falta, o peso da miséria; ou, pelo excesso, o peso da desmedida, a ideia fantasiosa de se ter um mundo aos seus pés.
Há a famosa frase “que mundo estamos deixando para nossas crianças?” e sua réplica, “que crianças deixaremos para o nosso mundo?” Tomando por base essas duas realidades contrastantes, há de se alarmar. Mas isso não é tudo. Há de se acalentar a criança perdida.
Da mesma autora: O exílio das borboletas (22 de outubro de 2015)
Leia também: A Europa dos refugiados (artigo de Jorge Fontoura, publicado em 17 de agosto de 2017)
A infância é a fase mais curta de nossas vidas, e a mais impactante. É como se o desenvolvimento infantil desembocasse eterna e constantemente no que somos e seremos. Este é o aprendizado permanente que faço em meu consultório de psicologia clínica, onde literalmente todas as pessoas trazem a infância à tona. Nem é preciso pedir. Mesmo em processos terapêuticos breves, sem fazer grandes mergulhos no passado, a criança que essa pessoa foi aparecerá de quando em vez, para o adulto poder desatar certos nós. Isso nos direciona a falar sobre a criança interna e que pede para não ser esquecida.
A visita à criança que nós fomos um dia também pode gerar metamorfoses inimagináveis. Se a ideia lhe for simpática, busque um diálogo com esta criança. Escreva(-se) cartas a ela, visite suas fotos, desenhe quem você foi, quais foram seus sonhos, anseios, frustrações, conquistas. O que mais lhe embalava na infância, o que era a vida vista pelos olhos de sua criança? O que dela ainda vive? O que foi abandonado e necessita de acalanto? Ou não faça nada aparente, apenas abra espaço interno para ela, o pilar de você.
Essa visita invisível pode inspirar outras possibilidades não somente na lida com questões pessoais, como também na visão do todo. Entrar em contato com o que nos sustenta, como seres individuais e grupais, é um belo caminho de acolhimento.
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