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Opinião do dia 2

O museu de Vila Velha pede socorro

No Paraná existe um complexo de formações rochosas que são herança de antigo continente que abrangia partes da América do Sul, Antártida, África, Madagáscar, Austrália, Nova Zelândia, Tasmânia e Índia. Essa colossal obra da natureza está situada no município de Ponta Grossa e é mundialmente conhecida por Vila Velha, compreendendo o conjunto das esculturas areníticas, as furnas e a lagoa dourada. Na respeitável opinião de geólogos, como o mestre João José Bigarella, essas riquezas teriam iniciado a sua formação há cerca de 1 milhão de anos!

A inspiração para ali edificar um museu de geologia e paleontologia remonta à data do 1.º Simpósio Nacional de Ecologia (Curitiba, 1978), com mais de 3 mil participantes e a presença de Jacques Cousteau (1910-1997), mundialmente famoso pesquisador oceanográfico. As manifestações vigorosas em favor da proteção do meio ambiente estimularam o professor João José Bigarella, Rubens Meister e outros cientistas a assinar um manifesto em favor da restauração da paisagem de Vila Velha. O famoso sítio geológico estava sofrendo intervenção nociva da Paranatur, com o seu plano de massificação para o turismo local. Algumas obras e equipamentos como piscina, churrasqueiras, placas de informação, centro de lazer, fontes de iluminação, já estavam incorporados ao local provocando grotesca poluição visual e afetando o espaço e a estrutura de alguns arenitos para instalação de playground, teleféricos etc.

Do manifesto resultou uma ação popular que foi julgada procedente para obrigar o estado do Paraná a restaurar o caráter primitivo do sítio. A sentença, inédita nacionalmente em ação popular para preservação do meio ambiente e do patrimônio natural, foi mantida no tribunal estadual e no Supremo Tribunal Federal, com a negativa de recursos oficiais.

Após 25 anos de tramitação, o processo chegou ao fim pelo acordo entre os autores da ação e o governo do Paraná, envolvendo a retirada das edificações e revitalização, com implantação de trilhas para um novo modelo de gestão turístico-científica da unidade de conservação e a implantação de um museu no local conhecido por Palmeira dos Índios, onde havia um conjunto de piscinas.

O tempo passou, mas não o entusiasmo e a esperança do mestre João José Bigarella em fazer do local uma referência científica mundial. Em 1998 foi criada a fundação que traz o seu nome e destinada a estudos e conservação da natureza (Funabi). Poucos anos depois, toma corpo a ideia de construir um museu geológico e paleontológico nas dependências do Parque Estadual de Vila Velha. A obra, iniciada em março e concluída em dezembro de 2007, tem 2.700 metros quadrados de área construída com recursos do erário estadual, no valor aproximado de R$ 2,8 milhões. Um projeto do circuito expositivo do museu com despesa superior a R$ 127 mil foi encaminhado pela Mineropar ao Ministério da Cultura para custear a implantação do museu, com base na lei de incentivo à cultura. Em 2009, a Copel repassou R$ 800 mil para aplicação em produtos e serviços. Lamentavelmente, porém, a burocracia oficial foi responsável pelo cancelamento do apoio de R$ 1 milhão da Petrobras. Motivo: falta da documentação entre a Funabi e o estado do Paraná!

O Museu de Vila Velha pede socorro. Um valioso acervo e a experiência de um notável cientista, com 212 estudos publicados no Brasil e conceituadas revistas técnicas da Alemanha, Estados Unidos, e outros países adiantados, poderão constituir o centro de excelência em geociências para orgulho do Paraná e interesse internacional. Um projeto dessa magnitude, movendo-se num cenário de milhões de anos, não pode ruir pela insensibilidade e omissão de servidores inaptos e órgãos conflitantes dos temporários governos estaduais.

René Ariel Dotti, advogado e professor universitário, é detentor da Medalha Mérito Legislativo da Câmara dos Deputados.

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