Muitos se perguntam: qual é o problema do Brasil? Por que há tanta demora em diminuirmos a pobreza no nosso país? Por que os problemas sociais se acumulam ao longo do tempo? Por que o Brasil é eternamente o país do futuro? Por que será que esse futuro nunca chega?
É complexo querer atribuir toda a culpa desses problemas ao governo de um ou de outro presidente. Não podemos também afirmar que tudo que ocorre no Brasil é por causa de um suposto “jeitinho nacional”. Contudo, somos capazes de alinhar todos esses problemas a uma única causa, a nossa produtividade.
Mas o que define produtividade? Sob o ponto de vista econômico, a produtividade é a eficiência da produção de bens ou serviços expressa por alguma medida. As medições de produtividade são frequentemente expressas como uma razão de um valor agregado usado em um processo de produção; ou seja, output por unidade de input normalmente durante um período de tempo específico. O exemplo mais comum é a medida de produtividade do trabalho agregado, por exemplo, como se vê com o PIB (Produto Interno Bruto) por trabalhador.
Por que o Brasil é eternamente o país do futuro? Por que será que esse futuro nunca chega?
A produtividade é um fator crucial no desempenho da produção de empresas e nações. O aumento da produtividade nacional pode elevar os padrões de vida porque quanto maior for a renda real, melhor será a capacidade de as pessoas poderem comprar bens e pagar por serviços, desfrutar do lazer, melhorar a habitação e a educação e contribuir para programas sociais e ambientais. O crescimento da produtividade também torna as empresas mais lucrativas.
Quando analisamos nações desenvolvidas e nações parecidas com a nossa, é espantosa a diferença no quesito de produtividade. Do ano de 1980 até 2021, a produtividade da Coreia do Sul aumentou em 408%. A Estônia, uma antiga nação da União Soviética e hoje país-membro da União Europeia, aumentou sua produtividade em 248%. Cingapura teve um aumento de 199%; já os Estados Unidos, 115%.
Na América Latina, o Chile aumentou sua produtividade em 84% e a Colômbia, apesar de todos os problemas gerados pelas guerrilhas, aumentou em 52%. Aqui no Brasil nossa produtividade aumentou apenas 5%, o que é um dos principais fatores que explicam nosso subdesenvolvimento. Isso significa que não investimos o suficiente em educação, tampouco em ciência, muito menos em pesquisa e desenvolvimento. Ademais, apenas possuímos um arcabouço de leis que são contra a inovação. Gostaria de dar um exemplo usando a Lei 9.956/2000, cujo único artigo reza que “Fica proibido o funcionamento de bombas de autosserviço (self service) operadas pelo próprio consumidor nos postos de abastecimento de combustíveis, isso válido para todo o território nacional”. É importante frisar que o autosserviço em postos de combustível é uma realidade em todos os países desenvolvidos, e que a figura do frentista hoje é uma profissão sem evolução e defasada. Essa massa de trabalhadores poderia estar sendo aproveitada em outros setores, e os custos de manutenção dos postos de gasolina cairiam; ou seja, o posto teria uma maior produtividade e talvez os proprietários acabassem por investir em novos postos, “puxando” toda uma cadeia produtiva.
Aqueles que apoiam essa lei, com a visão de defesa do emprego dos frentistas, se mostram contra a produtividade e ao mesmo tempo também são capazes de defender o emprego de ascensoristas de elevador e datilógrafos, profissões que não fazem mais sentido e que praticamente desapareceram do país.
Neste contexto, enumero algumas reformas tão necessárias em nosso país, tanto a tributária quanto a da máquina pública e, principalmente, aquelas que possam eliminar leis e regulamentos que em nada contribuem na produtividade nacional, apenas tornando nosso país mais burocrático e sem eficiência alguma. No fim, a sensação que nos passa é de que as pessoas servem ao Estado e não o contrário, tornando tudo bastante frustrante.
Sinceramente espero que possamos aproveitar este importante momento de mudanças para de fato considerarmos a baixa produtividade como sendo o maior problema de nossa nação para efetivamente encontrarmos, como sociedade civil e fiéis representantes, maneiras eficazes de avançar; caso contrário, o abismo entre essas nações e o Brasil ficará ainda maior ao longo do tempo.
Igor Macedo de Lucena é economista e empresário, doutorando em Relações Internacionais na Universidade de Lisboa, e membro da Chatham House – The Royal Institute of International Affairs e da Associação Portuguesa de Ciência Política.
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