Na sétima alta seguida, em 8 de dezembro, o Banco Central do Brasil estabeleceu os juros básicos da economia em 9,25% ao ano, com expectativa de novo aumento de 1,5 ponto porcentual na próxima reunião. As expectativas de mercado do Relatório Focus do BC apontam que os juros devem chegar ao patamar de 11,5% em 2022.
O processo de aumento dos juros está claramente associado à elevação da inflação na economia brasileira, sendo ela medida pelo IPCA. A inflação deve fechar em torno de 10% em 2021, ou seja, bem acima da sua meta de 3,75%. Os juros reduzem a atividade econômica ao elevar o custo da compra parcelada e dos investimentos, o que leva a uma redução da demanda agregada, além da tendência de apreciação cambial pelo diferencial dos juros, reduzindo o preço dos importados e desestimulando as exportações, sendo o principal instrumento para o controle inflacionário.
Desde o início do ciclo de alta, em março de 2021, o aumento dos juros foi de 7,25 p.p., devendo chegar a algo próximo de 10 p.p., em 2022, uma das maiores elevações da taxa de juros desde o início do regime de metas de inflação. O Banco Central está certo em sinalizar que está trabalhando para ancorar as expectativas para a meta de inflação nos próximos anos, pois o custo para ancorá-las tende a ser mais elevado quanto mais demorada e insuficiente é sua reação.
A inflação atual é decorrente, em grande medida, de efeitos externos que afetam a oferta de determinados bens via paralisação de etapas das cadeias globais de valor, além do aumento da demanda mundial por certas commodities. Por isso vários países desenvolvidos e em desenvolvimento estão enfrentando surtos inflacionários que devem se dissipar ao longo de 2022 e 2023. Na parte interna, os principais elementos são decorrentes das incertezas geradas pelo cenário político e pela (in)sustentabilidade das contas públicas.
No entanto, mudanças nos juros começam a ser sentidas de forma mais completa entre 9 e 12 meses, sendo que o atual ciclo será sentido com maior intensidade ao longo de 2022 e início de 2023. Adicionalmente, já estamos com uma economia estagnada desde o segundo trimestre de 2021, com inúmeros indícios de que não será muito diferente neste último trimestre.
Outro ponto que devemos levar em conta é que o mecanismo das expectativas na determinação da inflação ocorre sobretudo via estabelecimento dos preços em contratos, com especial ênfase àqueles do mercado de trabalho. Com o atual desemprego elevado que deve se manter ao longo de 2022 e mesmo de 2023, os efeitos das expectativas no processo inflacionário perdem força, sendo um canal menos relevante.
A inflação atual é decorrente, em grande medida, de efeitos externos que afetam a oferta de determinados bens via paralisação de etapas das cadeias globais de valor, além do aumento da demanda mundial por certas commodities. Por isso vários países desenvolvidos e em desenvolvimento estão enfrentando surtos inflacionários que devem se dissipar ao longo de 2022 e 2023. Na parte interna, os principais elementos são decorrentes das incertezas geradas pelo cenário político e pela (in)sustentabilidade das contas públicas.
Como parte da inflação deve se dissipar ao longo de 2022 e 2023 com tendência de certa normalização nas cadeias globais de valor e pelo fato de as expectativas terem um papel menor da determinação da inflação no atual momento, é possível que o Banco Central esteja exagerando na dose do remédio. Por outro lado, por estar trabalhando com um cenário fiscal adverso e com elevada instabilidade política gerada principalmente pelo atual governo, é possível entender as decisões do Copom. Enquanto o governo federal não fizer a lição de casa, as turbulências e o baixo crescimento serão constantes em nossa realidade.
Luciano Nakabashi, doutor em Economia, é professor associado da Fearp/USP e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Economia da Fearp/USP.