Há pelo menos 20 anos a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) apresentou o conceito do que agora no Brasil chamamos de Novo Ensino Médio. Apesar de ter demorado, ele chegou; está batendo à porta das escolas e começa a ser implementado gradualmente a partir do ano que vem, com a 1.ª série do ensino médio, e assim sucessivamente, para completar o ciclo de implementação nas três séries em 2024.
O formato já foi – e segue sendo – amplamente discutido, especialmente em razão de seu impacto, já que o país tem quase 50 milhões de estudantes matriculados no ensino básico. O modelo contempla uma nova organização curricular e ampliação da carga horária mínima, que vai passar de 800 para 1 mil horas anuais.
Para que o Novo Ensino Médio seja efetivamente novo, será preciso muita sensibilidade para que docentes auxiliem adolescentes na condução de diferentes projetos de forma flexível.
Agora, em vez de matérias, o currículo será dividido por quatro áreas de conhecimento – Matemáticas e suas Tecnologias; Linguagens e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Ciências Humanas e Sociais Aplicadas –, além de Formação Técnica e Profissional e o que se convencionou como Projeto de Vida, que busca desenvolver de forma integrada as áreas acadêmica, profissional, social e pessoal do adolescente.
Na teoria, é excelente. Na prática, porém, a história é outra. Especialistas têm apontado diversos obstáculos envolvendo o Novo Ensino Médio, do aumento na desigualdade entre alunos de escolas públicas e privadas e falta de investimento necessário por parte do governo à carga horária dos cursos técnicos, que não seria suficiente para uma formação de qualidade voltada ao mercado de trabalho. Do ponto de vista da escola particular, entretanto, vou me concentrar em três desafios, que considero serem os principais para o nosso segmento.
Professores e educandos são, sem dúvidas, os grandes atores desse movimento do Novo Ensino Médio. Para que os estudantes possam receber a melhor educação possível, os docentes devem passar por capacitações específicas e constantes. O novo modelo, afinal de contas, não pode ficar apenas no discurso da escola, mas ter uma prática relevante, extremamente proveitosa.
O primeiro desafio, portanto, é a capacitação adequada, que só será possível se as instituições de ensino investirem na especialização de seus colaboradores, o que gera custos adicionais. Para que a operação se mantenha sustentável, tais custos precisarão ser repassados nas mensalidades. Mas como fazer isso sem sobrecarregar as famílias?
É aí que entra o segundo desafio, na medida em que os gestores educacionais deverão colocar essas parcelas educacionais para os pais e responsáveis de forma viável. Será preciso fazer um gerenciamento muito afiado, na ponta do lápis, para que o impacto seja o menor possível, sem que do lado de cá a manutenção da instituição de ensino seja comprometida.
Há, ainda, um terceiro desafio, este do ponto de vista pedagógico. Com a implantação do Projeto de Vida, as coordenações pedagógicas deverão ter um olhar muito apurado, inter e multidisciplinar, para identificar os potenciais dos alunos. Aqui, não estamos falando de um estudante, mas de dezenas, centenas, a depender do tamanho da escola.
Esses, contudo, são apenas alguns dos desafios que conseguimos antecipar. Quando o modelo entrar em vigor, outros certamente surgirão. Para que o Novo Ensino Médio seja efetivamente novo, será preciso muita sensibilidade para que docentes auxiliem adolescentes na condução de diferentes projetos de forma flexível. Na vida dos jovens, é sempre bom lembrar, gostos, aspirações e ideias podem mudar rapidamente e os professores precisam estar preparados. Seres humanos são mutáveis – e, claro, adolescentes mais ainda.
Douglas Oliani é presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR).
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