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Quando o filósofo Ludwig Wittgenstein (1889-1951) emprega o termo "Estética", na obra Tractatus, ele se refere a uma forma peculiar de olhar, de observar o mundo e de mergulhar de forma contemplativa em sua beleza. Trata-se de admirar o mundo de modo correto, ou seja, como uma verdadeira obra de arte.

Ao dizer respeito ao mundo e à vida humana, Wittgenstein entende que só existe uma maneira possível de ver o mundo como obra de arte: se ele for visto sub specie aeternitatis, ou seja, "sob a forma da eternidade". Isso corresponde a dizer que o ponto de vista estético se atinge mediante um distanciamento dos objetos em geral, uma interrupção temporal, cuja finalidade consiste na abolição de todo o mecanismo conceitual que sobre eles pesa enquanto objetos do entendimento.

A consequência dessa atitude reflete uma transformação no próprio olhar, através do qual o espectador capta o objeto e o próprio mundo de um determinado modo. A questão central consiste em compreender como é possível efetuar essa mudança, de que maneira é possível olhar para os objetos e para o mundo e vê-los, segundo Wittgenstein, com um olhar estético. Ora, captar o mundo e os objetos deste modo consiste em apreendê-los, sub specie aeterni, de tal modo que o mundo se transforma em sua totalidade e, nesta perspectiva, também as coisas singulares assumem uma importância ímpar como partes componentes do todo. É como se a apreensão dos objetos fosse feita a partir do exterior e sem qualquer interesse ou outra motivação a não ser o prazer que a contemplação proporciona. Estar no espaço e no tempo significa ser atingido por eles. Recusar a influência sobre os fatos é o mesmo que suspender o tempo, não estar no tempo, mas viver no presente: "Vive eternamente quem vive no presente", diz Wittgenstein.

Mas esta mudança na forma de olhar só é possível se as coisas forem olhadas como obras de "Deus", ou seja, com um sentimento de admiração, descobrindo em cada coisa o reflexo do milagre que o mundo, e tudo o que há nele, revela. Apenas aqueles que conseguem contemplar o mundo como uma obra de "Deus" – portanto, com um olhar de admiração – são capazes de sentir a felicidade, a alegria e a paz a que Wittgenstein se refere: isso se consegue graças à contemplação estética. Contemplar um objeto qualquer como obra de arte é resultado de uma maneira específica de ver, de uma modificação no olhar. O objeto contemplado é o mesmo para todas as pessoas; porém, aquele que alterou sua maneira de ver conseguiu encontrar ali uma expressão do belo.

O que faz o sujeito feliz não são os acontecimentos do mundo ou um acontecimento específico, no sentido de ser uma alteração dos fatos do mundo, mas a felicidade é resultante de uma transformação do modo de ver, da intuição ou contemplação.

Aquele que consegue apreender o mundo a partir do exterior, como alguém que consegue sair dele e é capaz de contemplá-lo de fora, está em condições de alcançar uma satisfação desinteressada, uma alegria e uma felicidade sem motivo específico. Essa pessoa contempla o mundo, mas não se confunde com ele, de modo que tal atitude estabelece uma conexão entre o horizonte estético e o horizonte ético, no ponto preciso de que contemplar o mundo esteticamente significa viver a obra de Deus como obra de Deus.

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