Menos forte que a retórica, as práticas relacionadas à busca pelo desenvolvimento sustentável ainda são difusas. A política de desenvolvimento sustentável deve envolver, por princípio, toda a comunidade, inclusive, e não exclusivamente, o Estado. Um exemplo de sucesso está debutando dia 18 de maio, quando surgiu o primeiro trabalho da ONG Sustainable Seattle (http://www.sustainableseattle.org), em uma reunião com 150 líderes, em 1992, cujo produto foi a definição do primeiro rascunho do conjunto de indicadores de sustentabilidade para o município.
O trabalho pioneiro em prol da sustentabilidade em Seattle partiu, primeiro, do conceito. Definiu-se uma sociedade sustentável como aquela que persiste e se desenvolve. Nisto se fundamenta os exemplos de sociedades que deixaram de existir ao longo da curta história da humanidade, seja por guerras ou por exaustão dos recursos existentes. Com isso, o grupo de Seattle parte do princípio de que as necessidades e desejos humanos se encontram com os limites dos recursos naturais. Essa dicotomia precisa efetivamente ser gerenciada para conseguir alcança a sustentabilidade da sociedade, já que, para essa organização, uma sociedade sustentável deve ser justa e prover de oportunidades para cada membro da comunidade. Sem acesso a necessidades básicas, haverá conflitos.
Essa organização representativa e mobilizadora da comunidade local tem como missão desenvolver uma visão integrada da sustentabilidade urbana a partir da mensuração progressiva, construção de uma coalizão em prol de um objetivo único e de compreensão das iniciativas chaves. Os seus programas são: indicadores regionais, iniciativas na vizinhança, educação sobre sustentabilidade e prêmio de sustentabilidade.
O primeiro programa, e talvez a mais consagrada experiência da Sustainable Seattle, refere-se aos indicadores regionais. Fruto de uma discussão que envolveu efetivamente toda a comunidade local, eles são resultado de uma verificação de quais elementos seriam fundamentais para se compreender os rumos do município, considerando a sua situação, e definir quais elementos seriam importantes para a sua sustentabilidade urbana.
A partir dessa definição estabeleceram-se indicadores próprios para acompanhá-los com a finalidade de avaliar se realmente a comunidade avança no caminho desejado. Um dos indicadores, por exemplo, é a circulação de livros na biblioteca, que se vincula ao objetivo da aprendizagem coletiva e acesso ao conhecimento, e que demonstra a preocupação em se ter indicadores regionais e próprios para as questões locais.
Esse acompanhamento da realidade local a partir de indicadores específicos é associado a ações denominadas "iniciativa na vizinhança", que se trata de outro programa em que se estruturam condições de pesquisa e se realiza coleta de dados, além de proporcionar ajuda comunitária e ações vinculadas à melhora dos indicadores e da condição urbana. Para comunidade compreender a sustentabilidade, outro programa relevante é a educação sobre este tema. Por fim, há o programa de prêmio da sustentabilidade, que incentiva ações edificantes para a sustentabilidade do município.
Este conjunto de programas caminha no sentido de desenvolver na comunidade o sentimento de pertinência ao seu município. Um sentimento que carrega consigo a noção de responsabilidade pelas escolhas, que é um dos principais dilemas entre o econômico e o ambiental. Ou seja, se a comunidade souber escolher e tiver elementos para isso, seguramente estará à frente para alcançar a sua sustentabilidade.
Christian Luiz da Silva é economista, pós-doutor em Agronegócios pela USP, professor do mestrado em Organizações e Desenvolvimento da UniFAE Centro Universitário e organizador de dois livros sobre desenvolvimento sustentável.
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