Da campanha eleitoral paranaenses e brasileiros não devem sentir saudades, tal a pobreza das propostas dos candidatos e a desfaçatez com que a realidade foi manipulada em todos os quadrantes. Mas de uma coisa podemos estar certos: somos mesmo o país do futuro como declarou simpaticamente Stefan Zweig décadas atrás. Notou o paciente leitor que no futuro todos os nossos problemas estarão resolvidos e todas as nossas aspirações nacionais terão sido atendidas?
Entre 1870 e 1987, o Brasil foi o país que mais cresceu no planeta. De lá para cá, a economia brasileira pisou no freio e passou a crescer menos do que a maioria absoluta dos países do Primeiro, Segundo e Terceiro Mundos e menos do que a América Latina. Mas no futuro, garantem os candidatos, iremos crescer muito, muito mesmo.
Em 1987, 16% do orçamento federal eram destinados a investimentos. Agora são apenas 2,9%. Em compensação, os benefícios, gastos assistenciais e subsídios, que consumiam 3,1%, agora consomem 21,4%, e a despesa com aposentados e pensionistas dobrou. Mas no futuro, estejamos todos certos, o país vai investir muito, muito mesmo e nossos gargalos de infra-estrutura serão todos superados.
A educação de nossa gente é precária: os brasileiros foram classificados em último lugar no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa); o Instituto Anísio Teixeira pesquisou e concluiu que 54% dos estudantes da quarta série são incapazes de ler e escrever e 74% dos brasileiros adultos são funcionalmente analfabetos. Mas, não há porque desanimar: no futuro próximo, teremos uma educação de qualidade para todos os brasileiros.
Na realidade, deveríamos fazer uma coletânea dos programas eleitorais e anotar as promessas feitas, da mesma maneira como os jornalistas atentos deviam colecionar as previsões de astrólogos, numerólogos e videntes para 2007. Para quê? Para compará-las com a realidade no futuro.
Pessoalmente, torço para que muitas das promessas feitas pelos candidatos a presidente da República e governador não sejam cumpridas, pois se o forem teremos consolidado de vez a vitória do populismo assistencialista no país e no estado. O populismo e seu irmão siamês o assistencialismo não são coisa nova, e, desde os reis sumérios, os faraós egípcios e os cesares romanos, governantes de todos os lugares e épocas do mundo procuraram agradar à população distribuindo alimentos e auxílios. Para ficar no passado recente e na América Latina, o governo uruguaio ao final da 2.ª Guerra foi populista, o governo peruano de Alan García foi populista, a Argentina de Perón e Evita transformou o populismo em uma doutrina de estado. Infelizmente, a história mostra que o assistencialismo não foi economicamente sustentável em nenhum lugar em que foi praticado, nem promoveu o aumento permanente do bem-estar da população pobre. Quando o dinheiro fácil dos governos populistas acabou, acabou junto com ele a prosperidade dos menos favorecidos.
Uma promessa que a população deve fazer questão de cobrar é a melhoria da educação paranaense e brasileira, pois essa sim é que realmente vai abrir as portas das oportunidades para todos os paranaenses e brasileiros. Mais de 500 mil paranaenses ainda são analfabetos e no ritmo em que os programas oficiais vêm se desenvolvendo, o analfabetismo ainda será uma chaga por muitos anos. O programa Paraná Alfabetizado quando foi lançado em 2003 pretendia erradicar o problema em quatro anos. Não o fez, e ao final de 2006, mesmo se tudo tiver corrido como seus dirigentes esperam, menos de 25% da meta terá sido cumprida. O desempenho escolar dos estudantes paranaenses medido pelo SAEB Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica do MEC é pior que o de nossos vizinhos sulinos, os estudantes de Santa Catarina e Rio Grande do Sul tanto na 4.ª como na 8.ª séries do ensino fundamental, tanto em Português como em Matemática.
É inconcebível que um estado rico como o nosso não consiga eliminar problemas como esses que não envolvem desafios pedagógicos ou tecnológicos de monta. A população tem o direito e o dever de exigir de seus governantes que abandonem os triunfalismos vazios a respeito da qualidade do ensino público paranaense e que se dediquem de corpo e alma a que, em quatro anos esses dois desafios tenham sido vencidos: erradicar o analfabetismo entre nós e superar o desempenho educacional de nossos vizinhos ou, pelo menos, igualar-nos a eles.
A população, cansada de tantas promessas vazias, tem o direito e o dever de se mobilizar para acompanhar e fiscalizar o desempenho de seus governantes em todos os aspectos. Até agora ela se resignou a periodicamente emprestar seu ouvido paciente para acolher novas promessas sem a esperança de ver as anteriores concretizadas. Está na hora de demonstrar que sua paciência não é ilimitada nem infinita, nem um convite para a mistificação e a ineficiência.
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