Ao mesmo tempo em que, em Roma, o papa Bento XVI renunciava ao seu pontificado, na Sibéria caía um meteoro. A renúncia foi um desses fatos que nos surpreendem com o passado. E a queda do meteoro desperta temor no futuro. São temores que nos fazem sonhar com notícias que nos surpreendam ao longo da vida futura.

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Sonho em ler a notícia de que a economia é orientada para a redução da pobreza e a construção da igualdade social, com respeito ao equilíbrio ecológico; que o consumo está subordinado ao bem-estar, e este, à felicidade das pessoas. Sonho em ler a informação de que todas as crianças do mundo estão em escolas com a mesma alta qualidade, e nenhum pai ou mãe no analfabetismo; que a corrupção passou a ser tema limitado a estudo nos cursos de História; e que todos os políticos são comprometidos com utopias, propondo ações para todo o planeta e as próximas gerações. Gostaria de ver que os principais recursos da Terra passaram a ser regidos por normas do interesse de toda a humanidade e que a água do mar pode ser dessalinizada a baixo custo energético e com a mesma qualidade da água potável.

Será muito bom saber que todos os políticos eleitos usam os mesmos serviços públicos de seus eleitores; ter a surpresa de ver os mapas-múndi sem fronteiras separando países, todos integrados em uma mesma comunidade de seres humanos, com os mesmos compartilhados sonhos, e saber da desativação da última arma e do último reator nuclear. Será muito bom saber que os porta-aviões seriam usados apenas para fins turísticos e os bombardeiros, para viagens de jovens pelo mundo.

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Gostaria de que a ciência econômica fosse combinada com a ética para respeitar o meio ambiente, com um modelo equilibrado, e as necessidades básicas fossem um conceito do passado. Uma economia totalmente verde, sem petróleo, com a valorização da energia solar ou eólica, com boa qualidade de vida para todos.

Gostaria de que a busca maior da economia priorizasse a criação de tempo livre para ser usado livremente, em atividades que dessem prazer, especialmente na cultura.

Espero me surpreender ao saber da notícia da cura definitiva de todas as formas de câncer; da recuperação ou do atendimento daqueles que têm deficiências; da previsão e da cura do mal de Alzheimer; e do envelhecimento sem a perda do vigor, nem da saúde, nem da memória do passado ou dos sonhos para o futuro.

Gostaria de ver publicidade de chocolate descafeínado, whisky sem álcool, massa sem engordar, sal que não eleva pressão arterial. No esporte, quero ver um jogador de futebol ainda melhor que Pelé. Sonho ver com deslumbrada surpresa a descida do primeiro homem ou mulher em Marte; quero que ainda em minha vida a ciência seja capaz de criar chips injetáveis no cérebro para fazer cada pessoa ler, entender e falar qualquer idioma; quero usar aeroportos sabendo que não há polícia de fronteira, nem revista ou demora na espera.

Sonho com acordo dos líderes mundiais para desativar o meteoro que explode dentro da civilização industrial, desigualando a sociedade e depredando a natureza. Ver a notícia de que a tecnologia espacial já dispõe do poder de destruir asteroides a caminho da Terra, garantindo, assim, que a humanidade não terá o destino dos dinossauros e que terá milênios para continuar com boas surpresas, como a de um papa com dignidade suficiente para abrir mão de seu cargo, nos provocando a lembrar as surpresas do passado e a desejar imaginar sonhos para o futuro.

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Cristovam Buarque, professor da UnB, é senador pelo PDT-DF.