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O papel da empatia no debate sobre homescholing

Famílias defensoras da educação domiciliar em sessão solene ocorrida na Câmara dos Deputados, em 2019. (Foto: Agência Câmara)

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A recente aprovação de uma regulamentação para o exercício do homeschooling no âmbito da Câmara dos Deputados não teria sido possível sem que pontes fossem criadas e barreiras ultrapassadas.

Desde o início de 2019, o tema tem encontrado diversos desafios para se tornar viável. Defensores utópicos de uma regulamentação inviável e parlamentares sem desejo de conhecer a matéria e de orientação acentuadamente estatista protagonizaram momentos que deixaram claro um dos principais desafios para a pauta: a dificuldade de se encontrar um terreno comum, a partir do qual se possa avançar em termos legislativos.

Se, por um lado, há posições inflexíveis que destoam significativamente do que a própria Constituição estabelece a respeito da necessária parceria entre famílias e Estado, por outro, há pessoas empenhadas em combater oposições inexistentes e visões caracterizadas por generalizações reducionistas e caricaturescas.

Assim, ao olhar para a próxima fase da matéria, sua tramitação pelo Senado e a posterior – e mais decisiva – que é sua efetiva implementação, parece ser oportuno destacar quão necessário é que todos os envolvidos busquem desenvolver a empatia. Com mais empatia, o processo político poderá avançar tendo como norte o melhor interesse de todos. Em paralelo, se melhoraria a capacidade de compreender como o outro vê determinada matéria e também se aumentaria a chance de ser compreendido por ele. Creio não ser utópico pensar que ainda existam pessoas – e, portanto, parlamentares – dispostas a melhorar sua capacidade de empatia.

Além de quem está diretamente envolvidas com o processo legislativo, é preciso que mais pessoas falem a respeito do homeschooling, se posicionem e se mostrem. Não é necessário apenas que um deputado ou um senador tenha uma ideia clara a esse respeito – pude ver a diferença decisiva que a convivência de determinados parlamentares com famílias educadoras fez para sua compreensão sobre o tema. É necessário também que todas as pessoas com as quais as famílias educadoras convivem tenham uma visão mais clara do que é o ensino domiciliar. E quanto mais famílias buscarem fazer isso, melhor, pois deixará evidente a diversidade de formas, métodos e motivações das famílias que optam pelo homeschooling.

Em geral, ao se falar de empatia se fala na capacidade de se colocar no lugar do outro, sentir o que sente e conhecer as causas e consequências desses sentimentos. A empatia é, portanto, uma habilidade e, como tal, passível de ser desenvolvida com a prática. A empatia, segundo Fernando Sarráis, pressupõe a congruência de seis elementos. O primeiro é o interesse ou a curiosidade acerca da maneira de ser, estar e pensar dos demais. Uma grande barreira a ser vencida é a identificada em frases como “já sei como fulano pensa”, ou “nem vou tentar explicar”. É necessário um interesse genuíno por compreender o outro e cabe refletir sobre a nossa capacidade de nos fazer compreender.

O segundo elemento que precisa estar presente é o conhecimento da linguagem dos diferentes afetos e sua intensidade. Aqui é importante ter cuidado e buscar identificar quando uma manifestação é genuína ou falsa. Ao se estender por meio de uma analogia para abarcar quem busca atuar no tema no âmbito político é necessário que se entenda a linguagem política em cada meio próprio. O terceiro ponto que nos leva a crescer em empatia é um conhecimento acerca das regras gerais da afetividade. Quais as principais emoções e afetos, seus antecedentes e consequentes. O quarto é ter a capacidade de entrar em sintonia, de se contagiar pelo afeto que os demais estão sentindo. Já o quinto é a capacidade de identificar a causa de determinado afeto a partir da forma de ser da pessoa e das circunstâncias. Por fim, o sexto item é a capacidade de compreender as consequências que determinado afeto está produzindo em sua vivência interior e em seu comportamento observável.

Com a busca por desenvolver a empatia se cresce, por definição, na capacidade de compreender os demais. Mas não só se entende melhor a situação emocional dos demais, como também nos torna mais hábeis para que nos comportemos da maneira mais adequada considerando o estado afetivo do outro e nos dá ferramentas para gerar nos outros os afetos necessários para uma mudança de postura.

Por fim, um alerta: não há como desenvolver empatia sem sair de si mesmo. É necessário sair de si para conseguir entender o outro. Exige finalidade correta, interesse genuíno, prática recorrente. Não é tarefa fácil. Mas a recompensa é proporcional: melhor capacidade de compreender e ser compreendido. Vale a pena.

Pedro Hollanda, doutor em Administração e servidor público federal, é ex-secretário nacional da Família Adjunto e colaborador eventual da Associação de Famílias Educadoras do Distrito Federal.

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