"Queremos um Brasil mais justo", é uma frase quase unânime. Um país com a distribuição mais equânime de renda, a inclusão das pessoas que não têm acesso à educação, à saúde são desejos que refletem os valores que temos muito claro e que são universais. Vamos eleger o presidente da República, os governadores, os deputados e podemos, como instituição universitária, oferecer não só aos políticos, mas ao próprio cidadão, ao próprio eleitor, um elenco de questões que permite uma reflexão nas instâncias diversas da sociedade, na família, na escola, e possa se enriquecer e vir a ser um verdadeiro instrumento na construção do futuro.
Não nos interessa, nem podemos, apoiar candidatura alguma, ou partido político, ou mesmo uma proposta de governo. O que interessa à universidade é promover o debate das questões importantes para o futuro e elevar o nível do debate político. Enfrentamos um nível elementar, e o debate político, quando se trata do futuro, deve ser o mais elevado possível. O papel da universidade é criar a discussão, e é importante que haja o argumento contraditório. Não queremos influenciar ninguém sobre o que o Brasil deve ser, mas sim criar um espaço para que cada um possa tomar decisões quanto aos rumos do país com base em informações diferenciadas.
No centro do processo de desenvolvimento de um país, está o conhecimento, e aqueles países que perceberam a importância da educação continuam a liderar o processo de desenvolvimento do mundo. Infelizmente, no Brasil, demoramos muito a descobrir esse ponto. Passamos uma década em que a educação não tinha essa prioridade, e principalmente a educação superior, em que o conhecimento se desenvolve, produz suas conseqüências. Enquanto isso, outros países avançaram aceleradamente. Mesmo assim, Brasil, Rússia, Índia, China são as quatro nações na fronteira do futuro e, deles, a Índia e a China se aceleraram, a Rússia menos, e o Brasil se atrasou. Hoje, estamos no último lugar entre os quatro. Uma das razões, talvez a mais forte de todas elas, é que não investimos na educação há muito mais tempo, e agora continuamos a fazer o mesmo.
A geração atual e a próxima terão de passar pela educação formal de qualidade. Terão de alcançar essa educação formal de qualidade antes que muitas de suas conseqüências positivas possam ser universalizadas. O ministro da Educação, professor Fernando Haddad, afirma que a educação no Brasil precisa de duas gerações, caso consigamos universalizar o ensino básico e médio de qualidade e expandir a oferta da educação superior. Em duas gerações, criaremos condições para que não haja mais retorno, pois as pessoas não vão aceitar que seus filhos tenham educação inferior à que elas próprias tiveram. Então, realmente estamos falando em gerações, infelizmente não em governos, não em anos de gestão.
O Brasil, no decorrer dos anos 2000, experimenta uma duradoura primavera democrática. Espera-se que, ao alcançar a maioridade democrática, a sociedade brasileira passe à busca permanente do seu aperfeiçoamento. Eleições diretas em espaços cronológicos regulares são a garantia fundamental da prática exigida pelo regime democrático. Cabe aos cidadãos o direito livre de escolher seus dirigentes e, mais do que isso, de influenciar na melhor gestão pública, além de eleger as prioridades a serem implementadas em um novo mandato presidencial. Eleição é hora de prestar contas, de ajustar e corrigir rumos.
O ano de 2006 será fundamental para o Brasil porque, pela segunda vez no século 21 e pela quinta vez consecutiva, a nação escolherá democrática e diretamente seu dirigente maior. Como reitor, compartilho as preocupações dos brasileiros com a situação do país, seu futuro e com o papel da universidade nesse cenário. A casa do conhecimento tem a responsabilidade, juntamente com outras forças que compõem a sociedade brasileira, de buscar alternativas para enfrentar a difícil conjuntura política, como forma de chegar aos principais problemas da estrutura social do Brasil.
O papel da universidade e de seus diferentes atores, professores, estudantes e técnicos não é de se render diante da complexidade dos nossos tempos e muito menos de se deixar levar pela perplexidade, que significa, sem dúvida, confusão e falta de resolução.
Nesse alvorecer do século 21, a governança democrática exige que as minorias conquistem seus direitos, já que por diversas circunstâncias estiveram marginalizadas do poder. Não serão mais as maiorias que isoladamente determinarão as decisões. Elas terão de ser cada vez mais compartilhadas. Desse modo, o empoderamento das minorias é um traço novo e permanente do processo de aperfeiçoamento democrático.
Timothy Mulholland é reitor da Universidade de Brasília (UnB) e organizador do livro "Brasil em questão: a universidade e a eleição presidencial".
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