O Paraná produziu uma apreciável transformação em sua base produtiva no último meio século. De um território que abrigava fazendas de café, presas à economia paulista, e um conjunto de serrarias, o estado passou a hospedar estabelecimentos industriais integrados ao parque operante no resto do país e no Cone Sul, que atuam, na maioria dos encadeamentos, em escala planetária.
Tal metamorfose foi viabilizada pela formulação e execução de estratégias de desenvolvimento que contribuíram, de forma relevante, para a edificação da infra-estrutura física e financeira dos anos 60, a modernização agrícola e agroindustrial e a constituição dos pólos cimenteiro e papeleiro do começo da década de 70, a formação e a ocupação fabril da Cidade Industrial de Curitiba (CIC) e a implantação da Refinaria de Petróleo de Araucária, no segundo qüinqüênio dos 70, e a construção da hidrelétrica de Itaipu.
O costume de planejar o crescimento foi abandonado durante a crise que assolou o país nos anos 80, atingindo em cheio os entes federados em processo retardatário de industrialização. As alterações institucionais ocorridas naquele período abriram flancos para a disparada do endividamento dos estados, pela via da autonomia fiscal conferida pela Constituição de 1988, e sacrificaram a capacidade de interferência política dos estados nas decisões federais, mesmo naquelas que diziam respeito a programas regionais. Tome-se como exemplo, no caso do Paraná, o caráter improvisado do delineamento do ciclo das montadoras, acontecido entre 1996 e 2002 ao preço de grandes somas de recursos oriundos de renúncias fiscais.
O abandono das posições ofensivas do Paraná junto às instituições federais explica a substancial queda do estado no valor das obras realizadas no país entre 1996 e 2005, conforme a Pesquisa Anual da Indústria da Construção (Paic), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Enquanto a Região Sul passou de 11,0% das cifras empregadas na construção civil em 1996 para 11,9% em 2005, o Paraná constatou queda de 5,8% para 4,0% no período. O Rio Grande do Sul, apesar dos graves problemas como desequilíbrios fiscais e orçamentários e de endividamento do estado, elevou sua fatia de 3,3% para 4,8%.
É lícito mencionar que a notável expansão da Região Norte está intimamente ligada aos investimentos em exploração de gás natural de Urucu no Amazonas, no aproveitamento e consolidação da vertente mineral no estado do Pará, especialmente com implantação dos projetos da Companhia Vale do Rio Doce na região de Carajás, e na construção da cidade de Palmas, capital de Tocantins.
Ao mesmo tempo, a ampliação da fatia absorvida pelo Nordeste pode ser imputada ao incremento das obras de infra-estrutura portuária no Maranhão e na ampliação do pólo petroquímico e na instalação da Ford no território baiano. Já a elevação do peso do Centro-Oeste no valor dos empreendimentos da construção civil encontra justificativa nas aplicações realizadas no aprimoramento da infra-estrutura urbana de Brasília e em diferentes modais de transporte visando à melhoria da competitividade das cadeias do agronegócio instaladas em toda a área de fronteira.
O recuo da importância relativa do Sudeste concentra-se na compressão do peso do Rio de Janeiro, em razão de problemas financeiros acusados pelo tesouro estadual, e de São Paulo, devido, de um lado, à desconcentração inter-regional dos novos investimentos, e, de outro, aos reflexos da dinâmica cíclica contracionista da economia brasileira, refletida primordialmente no subsetor da construção civil.
Ainda assim, o Sudeste contabilizou crescimento na contribuição de Minas Gerais, por conta da ativação das atividades com fortes laços com as inversões em siderurgia, e do Espírito Santo, em face dos efeitos do enorme salto verificado nas indústrias atreladas ao uso de recursos naturais (petróleo, siderurgia e celulose).
A mutação dessa tendência e a recuperação da fatia do Paraná nos empreendimentos da construção civil impõe o desencadeamento de iniciativas conjuntas envolvendo lideranças políticas e empresariais do estado, no sentido da efetivação de pesado exercício de pressão junto às peças decisórias no plano federal para a exposição dos programas estratégicos ao desenvolvimento regional e a obtenção de recursos financeiros para a sua concretização.
Gilmar Mendes Lourenço é economista, coordenador do Curso de Ciências Econômicas da UniFAE Centro Universitário FAE Business School.
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