Pode ser confortante saber que tanto um quanto outro candidato pretende priorizar a educação em seu mandato, mas, sem apoio de outros segmentos do poder, o eleito terá menos chances de avançar nesse campo
O Paraná tem dois candidatos com chances reais de chegar ao segundo turno das eleições de outubro. Os dois garantem ter a educação entre suas prioridades. Não há por que duvidar da intenção deles. O histórico dos candidatos e de seus partidos, por si só, já demonstra a preocupação de ambos com o tema. Mas isso significa que os paranaenses devem dormir sossegados quanto à questão da educação no estado, pois quem quer que se eleja cuidará bem dela? Não necessariamente.
O Paraná tem se destacado entre as unidades federativas com desempenho respeitável na área educacional. Figura em quarto lugar entre os dez estados mais bem colocados até a quarta série e em sexto entre os dez mais bem colocados de 5.ª a 8.ª série no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) 2009. No ensino médio, está em 1.º lugar nacional, segundo esse mesmo indicador. O Paraná também tem o mérito de oferecer acesso quase universal ao ensino fundamental. Ainda assim, restam desafios que o próximo governador terá de enfrentar com determinação.
Dados do programa Nós Podemos Paraná, que tem como principal articulador o Sistema Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), indicam que, no estado, 4,5% das crianças de 7 a 14 anos estão fora do sistema educacional. No ensino médio, devido à evasão e à defasagem, a taxa líquida de matrícula é pouco mais de 50%. O programa, voltado para o cumprimento das Metas do Milênio da ONU, alerta também para a questão da qualidade do ensino fundamental ao lembrar que quase a metade dos alunos da 8.ª série obteve avaliação crítica ou muito crítica em matemática.
Desafios como esses sem dúvida exigirão vontade política e empenho do próximo governador. Todavia, é preciso lembrar que não depende exclusivamente do Poder Executivo estadual a solução para os problemas que o estado ainda enfrenta no âmbito da educação. Pode ser confortante saber que tanto um quanto outro candidato pretende priorizar a educação em seu mandato, mas, sem apoio de outros segmentos do poder, o eleito terá menos chances de avançar nesse campo. Ele precisará (como os demais mandatários dos demais estados brasileiros) do apoio político do Poder Legislativo estadual, dos poderes executivos municipais, da classe empresarial e da sociedade civil como um todo. Em suma, o êxito de políticas públicas depende de ampla articulação.
Mais do que outras áreas, a educação pública requer visão de longo prazo. Em termos práticos, isso significa uma política educacional que resulte de um consenso suprapartidário. Trata-se de promover uma educação menos dependente de governos e mais comprometida com a sociedade em geral. Professores e estudantes não podem permanecer à mercê de decisões centralizadas que interrompem processos, promovem mudanças passageiras e mergulham a formação escolar em uma transição infinita. Como desenvolver o comprometimento dos envolvidos no ensino e na aprendizagem em um contexto de instabilidade?
Partidos muito podem contribuir para a reflexão em torno da educação brasileira, especialmente aqueles que estão ou já estiveram no poder e conhecem melhor seu funcionamento. Mas a educação não pode ser refém de posições políticas, menos ainda estar sujeita à constante troca de mandatário no Executivo. Governos passam, a educação fica. Essa é uma realidade que exige dos políticos no poder grande dose de abnegação, de maneira a abrirem mão de eventuais autorias em favor de uma construção coletiva embora a iniciativa de uma política estável para a educação só possa abrilhantar o histórico de um governante, seja ele quem for.
Ben Sangari, físico, é presidente da Sangari Brasil e do Instituto Sangari instituição que dissemina a cultura científica no Brasil.
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