A expansão de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no segundo trimestre de 2013, em comparação com os três meses imediatamente antecedentes, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em fins de julho, sustentada na pujante recuperação da agropecuária e na reação dos patamares de investimentos, surpreendeu os meios especializados ao suplantar, com apreciável margem, as previsões correntes que cravavam uma taxa de crescimento ao redor de 1%.
O aparecimento de uma estatística reconhecidamente mais favorável, mesmo que pontual, ensejou a formação de um ambiente de otimismo, nas hostes oficiais, principalmente no Palácio do Planalto e no Ministério da Fazenda, que chegou a contagiar parcela substancial dos representantes da comunidade empresarial e dos segmentos formadores de opinião.
Tanto é assim que o ministro Guido Mantega recorreu a um exercício de anualização da variação do PIB para sentenciar que o pior já teria passado e que a economia do país estaria crescendo 6,1% em 12 meses, sendo vencida, no ambiente global, nesse interregno, apenas pela China. De seu turno, a presidente Dilma, em discurso comemorativo do aniversário da independência, também fez questão de reiterar, de forma triunfalista, a natureza virtuosa do clima de negócios no Brasil.
É fácil notar que as autoridades e aqueles atores sociais permanentemente inclinados a alterações de diagnósticos e de posições ignoraram ao menos duas facetas relevantes contidas nas estimativas do PIB, que permitiriam relativizar o seu respectivo vigor. A primeira delas corresponde ao incremento estatístico verificado a partir de uma base de confronto deprimida do primeiro trimestre, quando houve acréscimo de apenas 0,6%. A segunda restrição repousa na concentração do dinamismo na cadeia produtiva baseada na agropecuária, apoiada na colheita recorde de grãos, nos preços internacionais dos alimentos 30% acima das médias históricas e no efeito-renda da depreciação cambial de mais de 20%.
Mas o principal disfarce da retórica governamental diz respeito ao fato de os números aparentemente bons traduzirem um passado com exíguas chances de perpetuação. Isso porque as pistas acerca do comportamento da economia para o terceiro trimestre são pouco animadoras, reproduzidas na despencada dos índices de confiança de empresários e consumidores para níveis semelhantes aos registrados no primeiro semestre de 2009, quando o país tentava sair da recessão, por ocasião do ápice da instabilidade global.
O próprio IBGE apurou queda de 2% da produção industrial brasileira no mês de julho de 2013, em confronto com junho, e pesquisas recentes, realizadas pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), revelam rápida subida dos estoques e redução do desejo de investimento do setor industrial.
Na realidade, a decolagem econômica brasileira vem sendo obstruída pelos crescentes desequilíbrios nas contas externas, pela debilidade das finanças públicas, pela ausência de um projeto consistente para a superação dos gargalos na infraestrutura, e pelos focos inflacionários domésticos, apesar dos sucessivos pacotes de benesses oficiais, lançados de forma improvisada pelas autoridades federais, para setores selecionados por critérios pouco transparentes. Nessas circunstâncias, vale a sábia recomendação dos nossos avós: juízo e canja de galinha não fazem mal a ninguém.
Gilmar Mendes Lourenço, economista, é diretor-presidente do Ipardes e professor da FAE.