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O PIB e os processos migratórios do ensino superior

(Foto: Pixabay)

As vidas de Alexandre e Letícia se encontraram quando se conheceram em uma grande universidade particular da capital paranaense – ela cursava Comunicação e ele, Engenharia. Ambos vieram do interior – ela do Norte, ele do Oeste. De famílias de classe média-alta, o casal recebia dos pais todo o custeio de alimentação, moradia, transporte, estudos e lazer. O dinheiro saía do interior e era utilizado integralmente para o consumo na capital.

No último ano da graduação, o casal trocou alianças e ambos conseguiram boa colocação no mercado de trabalho. Quando conquistaram o canudo, já ganhavam o suficiente para criar o bebê que estava por vir. Às famílias do interior, restaram as visitas nos fins de semana. As vidas de Alexandre e Letícia agora eram na capital. Essa história pode justificar os dados do Mapa do Ensino Superior no Brasil 2019, divulgado recentemente pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp). Segundo o estudo, índices como IDH, PIB e renda média costumam ser mais altos onde há instituições de ensino superior (IES).

Os dados reforçam a necessidade da capilarização do ensino superior no país, criando polos universitários para supri-la

O levantamento mostra que a presença das IES pode ser sentida principalmente no PIB dos municípios. Aqueles que contam com cursos de graduação têm PIB per capita médio de R$ 30,7 mil, enquanto, nos que não contam, é de apenas R$ 19,7 mil. De acordo com o Semesp, os dados reforçam a necessidade da capilarização do ensino superior no país, criando polos universitários para supri-la. Segundo o sindicato, mais empregos seriam gerados e o país acabaria melhorando todos os seus indicadores. Sem dúvida, a migração de estudantes do interior, como Alexandre e Letícia, para grandes centros desloca a força de trabalho e leva mais riquezas para as cidades universitárias.

Uma saída para esse problema da debandada de estudantes universitários de pequenos municípios é a educação a distância (EAD), que, além de cerca de 30% mais barata, pode ser cursada sem sair da cidade natal, reforçando a economia e a população economicamente ativa da região. A EAD é capaz de modificar o mapa de concentração de riquezas nos grandes centros, popularizando o ensino superior no país e levando a educação até mesmo às regiões mais pobres e mais distantes.

Por outro lado, os grandes centros, que já apresentam as maiores concentrações do PIB brasileiro, são os principais focos das IES privadas. Não é à toa que as cidades mais ricas do país concentram um grande número de universidades. Os dados mais recentes, de 2017, mostram que o número de IES representa quase metade do número de municípios brasileiros, mas pouco mais de um quarto desses municípios sediam alguma IES. A instituição privada sempre vai estudar e escolher o município com o maior potencial de consumo, instalando-se em grandes centros ou oferecendo cursos específicos direcionados ao público de determinada região produtiva, como Agronomia, Engenharia Aeronáutica, Oceanografia etc.

O que o estudo não mostra, porém, é a falta de qualidade e credibilidade das IES brasileiras – o que pode ser medido pela enorme debandada de estudantes para o exterior: uma pesquisa da Associação das Agências Brasileiras de Intercâmbio (Belta) mostra que, em 2018, 50,4 mil brasileiros foram cursar uma graduação no exterior. Isso representa um aumento de 37,7% em relação a 2017 (36,6 mil). Esses números é que devem nos preocupar e alertar as 2.448 IES privadas para o aumento da qualidade no corpo docente, melhorias em infraestrutura, oferta de cursos para as novas demandas do mercado, certificação com reconhecimento no exterior e adaptação didática e tecnológica para receber essa nova geração de estudantes.

Paulo Arns da Cunha é diretor da Divisão de Ensino do Grupo Positivo.

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