A partir de hoje os usuários de telefonia de Curitiba poderão mudar de operadora mantendo o mesmo número do telefone graças à portabilidade numérica que entra em vigor para as localidades com DDD 41. A medida, que começou a ser implementada no Brasil em setembro passado já atinge 3.828 municípios, o correspondente a mais de 68% do total de cidades brasileiras. Até 2 de março a portabilidade chega a 100% do território nacional, garantindo ao consumidor o poder de escolha da prestadora de serviços de telecomunicações sem a necessidade de trocar de número. O maior poder de escolha nas mãos do consumidor refletirá diretamente na maior competição entre as empresas fornecedoras do serviço e consequentemente na melhor qualidade dos serviços prestados.
Esperada e planejada há mais de dez anos, quando foi prevista na LGT Lei Geral de Telecomunicações que marcou o início da privatização do setor no Brasil em 1998, a portabilidade numérica é realidade em diversos lugares do mundo. Apesar de apresentar reflexos diferentes em cada geografia em função das distintas configurações de mercado, a medida sempre causa impactos. Um dos casos mais significativos ocorreu em Hong Kong, onde a portabilidade foi adotada em 1999 e aumentou o churn (taxa de migração de clientes entre operadoras) em mais de 100%. Outros países que também registraram alta movimentação com concorrência mais intensa a partir da oferta do serviço são Finlândia, Portugal e Suécia.
Um comparativo dessas localidades com outras onde o impacto do serviço foi menor, mostra que alguns fatores são determinantes para o sucesso da portabilidade, como o tempo de instalação da linha portada e o preço cobrado do consumidor. Um exemplo que aponta essa discrepância é a Irlanda, país no qual o preço para a mudança chegava a US$ 70 e a solicitação pela troca foi inferior a 20% dos assinantes. Na Holanda a situação foi parecida, pois apesar do baixo custo, a linha nova demorava 50 dias para ser instalada.
No Brasil, a tendência, que já se confirma na prática com uma média diária de 1.500 solicitações de portabilidade nos primeiros quatro meses, é que a medida tenha grande aceitação. Isso porque o tempo de instalação é curto não passa de cinco dias úteis atualmente, com poucos casos isolados de um maior tempo de espera, e o serviço é gratuito para o consumidor já que as operadoras absorveram os custos.
Outra característica relevante é a forma ordenada que envolve a implantação do processo no Brasil. Por ser algo completamente novo no país, a implantação ocorre em etapas por lotes de cidades com intervalos de uma semana ou mais para que as empresas envolvidas consigam sincronizar completamente seus sistemas de informação. Depois da implantação total, a expectativa é até que o prazo máximo de cinco dias úteis caia para três ao longo deste ano.
Além disso, pesquisas como a realizada pelo instituto Yankee Group às vésperas do início da portabilidade numérica, indicam que 46% dos usuários residenciais de telefonia mudariam de operadora, caso pudessem manter o mesmo número. O índice chega a 53% no mundo empresarial que, até então, contraía gastos extras sempre que migrava de operadora ao precisar refazer a papelaria, anúncios além de avisar clientes e fornecedores.
Até o momento, com pouco mais de quatro meses do início do serviço no Brasil, os números são expressivos. Mais de 180 mil usuários solicitaram a alteração de operadora com a manutenção do número, sendo pouco mais de 60% nas provedoras móveis e o restante nas fixas.
Por se tratar de uma cidade acostumada com a competição entre operadoras e com várias alternativas ao consumidor, Curitiba deve seguir ou até superar a média nacional e utilizar verdadeiramente os benefícios da portabilidade numérica. Os consumidores devem entender que a possibilidade de mudança de operadora com manutenção do número é uma vantagem real um ganho no poder de barganha com as prestadoras na exigência pela maior variedade e maior qualidade de produtos e serviços.
Mas no momento de decidir optar pelo serviço, o consumidor deve avaliar efetivamente os prós e contras da alteração. Além do preço e questões de multa por quebra de contratos de fidelidade, fatores preponderantes para a busca de uma nova solução, os usuários têm de se preocupar com a qualidade do serviço e produtos oferecidos pelas provedoras. Outro ponto de atenção são as promoções por tempo determinado, que convencem os consumidores ao oferecer preços irreais sujeitos a alterações consideráveis poucos meses depois.
Seguindo as dicas para fazer uma escolha consciente, sem se levar por decisões impulsivas, a portabilidade poderá agregar muito valor a todos os consumidores que recorrerem a ela.
Ricardo Sanfelice é diretor de Marketing e Produtos da GVT.