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Estamos assistindo de camarote, em um semestre avassalador, ao que que vai sendo “prometido” aos brasileiros, bem articulado entre os poderes. A liberação das drogas está entre os bens oferecidos aos brasileiros.
Bem me lembro, ao iniciar o trabalho na Secretaria Nacional da Família, da primeira carta que recebi, em 2019, de uma avó do interior de São Paulo que me rogava, com sua letra trêmula, que lutasse para que as drogas não entrassem na família, pois, em sua cidade, o narcotráfico usurpava até mesmo o silencio da noite; porém, o que a preocupava de fato, era o desejo expresso de seu neto de ser traficante, para poder ter um tênis de marca.
Lutamos durante os quatro anos, junto com a SENAPRED (Secretaria Nacional de Prevenção de Cuidados e Prevenção de Drogas) bem como através do CONAD (Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas), do qual eu também fazia parte, para implementar políticas públicas positivas: desde o fortalecimento de vínculos familiares para prevenir comportamentos de risco, à promoção das comunidades terapêuticas, que tantas vidas têm transformado, com histórias realmente emocionantes, e que hoje fazem a diferença para nosso Brasil.
Não bastasse sermos reféns da hiper-sexualização, agora chegam as drogas, para completar a dependência e a manipulação do ser humano
Por outro lado, a pedido da então Ministra da Agricultura, Teresa Cristina, levamos para o interior do país o Programa Famílias Fortes. Em inúmeros casos, a agricultura familiar não prosperava porque o jovem saía do campo e acabava se envolvendo com as drogas na cidade, perdendo a possibilidade de fazer crescer o negócio, também através da inovação.
Desde o sistema FAESP/SENAR, que trabalha o tema através do Programa Saúde no Campo, continuamos a batalha junto às famílias e Sindicatos, bem como por meio da oferta de formação universitária em Agropecuária, oferecida pela CNA (Confederação Nacional da Agricultura) e em parceria com a UNISA.
Após ter trabalhado também, durante os anos anteriores, junto ao Congresso Nacional, pela não aprovação do Projeto de Lei 399/15 que visa à plantação e comercialização da Cannabis, com alto risco de não ser utilizada devidamente para tratamento medicinal (já aprovado e veiculado pelo Ministério da Saúde), e, que levaria também a abrir a comporta para o tráfico, especialmente nas famílias mais vulneráveis, pelo meio econômico ofertado, vemos agora o julgamento no Supremo Tribunal Federal sobre o porte de maconha para consumo pessoal, visando a descriminalizar a conduta a partir do questionamento da constitucionalidade do artigo 28 da Lei de Drogas.
É arqui-conhecido que legalizar drogas, seja lá em que quantidade ou qualidade, é abrir a caixa de pandora para todos os vícios e suas funestas consequências, desde o sepultamento do próprio projeto profissional pessoal ao suicídio, passando por inúmeros conflitos familiares, crimes e descompensações sociais.
Não bastasse sermos reféns da hiper-sexualização e da falta de um projeto de educação com um mínimo de nível, agora chegam as drogas, para completar a dependência e a manipulação do ser humano.
De fato, cada dia adentramos mais, em nome da liberdade, no caminho da escravidão. Por essa razão agradeço tanto a todos que seguem trabalhando para dar ao ser humano as condições necessária para que sejam realmente livres e plenamente felizes. Vamos juntos!
Angela Gandra Martins é gerente jurídica da FAESP/SENAR, sócia da Gandra Martins Law, professora de Filosofia do Direito da Universidade Mackenzie, Presidente do Instituto Ives Gandra de Direito, Filosofia e Economia e Ex-Secretaria Nacional da Família.
Conteúdo editado por: Bruna Frascolla Bloise