A aproximação do pleito eleitoral na Argentina aumenta as especulações acerca dos destinos do país a partir da vitória de um ou de outro candidato. Entre os diversos postulantes ao cargo de chefe da nação, dois deles se destacam. De um lado, o atual presidente, Maurício Macri, enfrenta um alto índice de rejeição propiciado, principalmente, pelo não cumprimento de suas promessas de campanha, sobretudo no que se refere à realização de reformas estruturais na economia do país. De outro lado, o candidato Alberto Fernández desponta como o favorito a ocupar a Casa Rosada nos próximos anos.
Alberto Fernández sinaliza um equilíbrio no que se refere à condução das políticas econômicas do país, sem que haja, portanto, grandes rupturas
Alberto (os argentinos costumam chamar os seus presidentes pelo primeiro nome) não é novato na política. Integrante do Partido Justicialista, de legado peronista, o candidato de oposição ao presidente Macri integrou a burocracia estatal em outras ocasiões, exercendo, inclusive, a chefia de gabinete do ex-presidente Néstor Kirchner. Em 2007, com a eleição da presidente Cristina Kirchner, Alberto Fernández continuou exercendo função de alta confiança no governo. Abandonou o cargo no ano subsequente apresentando críticas contundentes à condução do país, sobretudo a respeito da relação conflituosa entre Cristina e o patronato agrário argentino. Nesta ocasião, Alberto anunciou não apenas a sua saída do governo, mas também o abandono da vida política, retornando à Universidade de Buenos Aires, onde exercia a função de professor da Faculdade de Direito.
As divergências entre Alberto e Cristina se tornaram ainda mais profundas no período posterior ao fim do mandato da presidente, quando ela passou a figurar como investigada em uma série de denúncias que supunham a sua participação em esquemas de corrupção. De perfil discreto e moderado, Alberto evitou confrontar publicamente a sua antiga chefe, mesmo que tenha expressado de maneira recorrente a interlocutores próximos a sua insatisfação com a ex-presidente.
O amplo desgaste político do governo liberal macrista, somado a uma grave crise econômica e a ampliação da pobreza entre os argentinos, propiciou o cenário perfeito para o retorno do peronismo, representando pela sensibilizada figura de Cristina. As resistências dentro do partido levaram a ex-presidente a buscar um nome de consenso para liderar uma chapa que competisse pela presidência.
Distante dos extremos ideológicos e caracterizado por um comportamento de grande maturidade política, Alberto Fernández atraiu os olhos dos mais importantes setores que compõem o justicialismo argentino, inclusive de governadores de províncias que anteriormente haviam dado suporte ao presidente Macri. A realização de prévias em agosto demonstrou o favoritismo de Alberto, que amplia a sua vantagem frente ao seu principal opositor em quase todas as pesquisas eleitorais até aqui realizadas.
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Restou à ex-presidente Cristina Kirchner a posição secundária na chapa presidencial, o que poderá lhe garantir um tratamento diferenciado nas instituições jurídicas do país sem, todavia, gerar maiores prejuízos aos interesses eleitorais do peronismo. Especialistas vislumbram uma possível vitória da composição formada por Alberto e Cristina já no primeiro turno, marcado para este mês.
Aos mercados, Alberto Fernández sinaliza um equilíbrio no que se refere à condução das políticas econômicas do país, sem que haja, portanto, grandes rupturas. Politicamente, o candidato tende a manter a sua companheira de chapa em uma condição coadjuvante, sem grande influência sobre o processo de decisão presidencial.
Christopher Bahia Mendonça, doutor em Ciência Política, foi pesquisador do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais em Hamburgo e é professor de Relações Internacionais no IBMEC Belo Horizonte.