Manifestações populares já derrubaram regimes e presidentes, e mudaram o curso da história. Exigiram tomadas de posições dos governantes e repudiaram ditaduras e atos terroristas. No Brasil contemporâneo, o povo foi às ruas por seus ídolos, como na morte do ex-presidente Juscelino Kubistchek, na perda de Ayrton Senna, pelas Diretas Já e, mais recentemente, para mostrar a profunda insatisfação do país com a era petista.
O povo vai às ruas motivado por sentimentos coletivos, de apoio ou de repúdio. Trata-se, sempre, de uma atitude geral que une milhares e milhares e se personifica no ato de protestar em conjunto. Fenômeno, portanto, de vivência democrática e, se for o caso, de luta pela própria democracia. Por ser a expressão máxima da coletividade, é um precedente de extrema importância, com suas consequências e imprevisibilidades.
O país inteiro anseia pelas reformas inadiáveis que vão dar os primeiros passos na retomada de um novo ciclo de desenvolvimento
Por tudo isso, creio que as manifestações populares marcadas para o próximo dia 26 em várias cidades brasileiras carecem de uma reflexão mais aprofundada: estamos com quatro meses de um governo escolhido pela grande maioria dos brasileiros como um vértice de esperança no caos implantado por decisões desastrosas do governo Dilma Rousseff e dos escândalos revelados pela Operação Lava Jato. Passadas as divergências naturais da campanha eleitoral e seus embates ideológicos, o país inteiro anseia pelas reformas inadiáveis que vão dar os primeiros passos na retomada de um novo ciclo de desenvolvimento. São o elemento vital para começar a reduzir a imensa fila de mais de 13 milhões de desempregados, transformados em consumidores que darão alento à economia.
Não há tempo a perder, portanto. O governo de Jair Bolsonaro deve se preocupar, no momento, em fazer a lição de casa, com uma agenda de encontros e discussões sobre os temas que realmente são imprescindíveis ao país. E, como foi eleito democraticamente e montou a equipe de governo que julgou mais preparada para governar, tem o apoio popular para realizar uma gestão eficiente e competente. Ou seja, o povo brasileiro não precisa ir às ruas para ratificar o voto – este, sim, soberano na tradução dos seus próprios anseios.
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Para um ou outro equívoco na montagem do governo há paciência de sobra, como vem sendo demonstrado. Se a nova equipe – que conta com gente da qualidade do ministro da Economia, Paulo Guedes, e da Justiça, Sergio Moro – der a resposta primordial na aprovação das reformas no Congresso, o descontentamento vai desaparecer em velocidade espontânea.
Insistir em levar o povo para as ruas demanda tempo, preocupação e afastamento do foco principal, de que um governo não pode prescindir. E corre-se um risco demasiado para um governo que acabou de chegar: o pesadelo de ver as ruas quase vazias.
Os brasileiros de boa vontade esperam que a sensatez se manifeste nos próximos dias em Brasília. O povo brasileiro continua fazendo sua parte, indo às ruas apenas para cumprir a sua responsabilidade, que é a jornada diária de trabalho!
Marcos Domakoski é presidente do Movimento Pró-Paraná.
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