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| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

A educação tem sido um tema recorrente nos debates eleitorais. Fala-se muito sobre investimento em educação, índices de desempenho dos estudantes, acesso ao ensino superior ou os indicadores do Brasil em comparação com países de primeiro mundo. Pouco se discute, no entanto, o terrível impacto para a vida dos cidadãos e para o desenvolvimento do país de uma questão central nesse campo: a evasão e o abandono escolar.

O debate da educação sob o olhar da evasão e do abandono ganha outro sentido. Não há melhor indicador para o sucesso das políticas educacionais que o mais básico de todos: quantos jovens acreditam e se engajam no nosso projeto de educação? Afinal, quem pode arbitrar sobre o valor desse serviço público é o seu principal beneficiário, o aluno.

Por essa perspectiva, estamos falhando enquanto sociedade. Estima-se que um em cada quatro jovens de 15 a 17 anos não estão frequentando a escola, o que tem reflexos negativos em suas vidas e em áreas estratégicas para o país, como economia, saúde e segurança. As informações são do estudo Políticas públicas para redução do abandono e evasão escolar de jovens, realizado pela Fundação Brava em parceria com Instituto Ayrton Senna, Insper e Instituto Unibanco.

Manter o jovem na escola deveria, sim, ser prioridade número um na educação

Hoje, cerca de 1,5 milhão de jovens brasileiros não se matriculam no ensino médio, 700 mil abandonam durante o ano letivo, e outros 600 mil reprovam por terem muitas faltas. Os motivos para tamanho desengajamento são diversos. Há fatores contextuais, como gravidez na adolescência, necessidade de começar a trabalhar e cooptação pelo narcotráfico. Mas há também um outro grupo de motivos, talvez mais significativo inclusive, relacionado à qualidade da oferta. Trata-se da baixa relevância do currículo, ambiente escolar desestimulante, falta de acessibilidade para jovens com necessidades especiais, bullying, repetência acumulada, ou falta de comunicação sobre o valor da educação.

Apesar de existirem centenas de políticas públicas voltadas ao combate da evasão e abandono escolar, estamos estagnados nas taxas de matrículas desde 2000. De acordo com os dados, se o Brasil mantiver o atual ritmo de progressão de presença de jovens na escola, levaremos 230 anos (15 gerações) para universalizar o ensino médio. Uma informação alarmante, uma vez que o Plano Nacional de Educação prevê o cumprimento dessa meta até 2016.

Manter o jovem na escola deveria, sim, ser prioridade número um na educação. No futuro, de acordo com o estudo, a chance de jovens com ensino médio incompleto de conseguirem um emprego é 35% menor e a sua renda mensal fica, na média, em R$ 643.

Leia também: O que é educação clássica (artigo de Rafael Falcón, publicado em 4 de outubro de 2016)

Leia também: O homeschooling e o Supremo Tribunal Federal (editorial de 16 de setembro de 2018)

Essa perda de poder aquisitivo representa R$ 35 bilhões por ano. Ainda de acordo com o estudo, que compõe a Galeria de Estudos e Avaliação de Iniciativas Públicas (Gesta), a evasão escolar também causa um prejuízo de R$ 49 bilhões para a atividade econômica do país, R$ 28 bilhões na área da saúde e R$ 18 bilhões no controle da violência e criminalidade. A soma das perdas, R$ 130 bilhões de reais, é maior do que o gasto total da União com educação em 2017. Segundo o relatório divulgado, este ano, pela Secretaria do Tesouro Nacional, os investimentos destinados à área totalizaram R$ 117,2 bilhões.

Acabar com a evasão e o abandono escolar é uma tarefa urgente, e o país só tem a ganhar ao investir na inclusão e permanência de todos os jovens nas escolas. Mais do que índices e estatísticas, o jovem escolarizado gera renda, empregabilidade e qualidade de vida para todos os cidadãos.

Marina Gattás é cientista política pela Brown University, coordenadora de projetos da Fundação Brava e integrante da equipe responsável pela pesquisa “Políticas públicas para redução do abandono e evasão escolar de jovens”, da Galeria de Estudos e Avaliação de Iniciativas Públicas (Gesta).
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