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O primeiro semestre de Bolsonaro e um novo estilo de governo

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presidente-jair-bolsonaro-coração (Foto: Alan Santos/PR)
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Após seis meses na Presidência, Jair Bolsonaro conseguiu estabelecer um estilo de governo que se diferencia dos anteriores. Em duas situações ficou evidente esse novo estilo: na comunicação política e na relação com o Congresso nacional.

Na comunicação política, Bolsonaro se afastou do antigo modelo que usava a publicidade estatal nos principais meios de comunicação e os privilegiava como o instrumento de informação e divulgação das ações do governo. Bolsonaro tem privilegiado as redes sociais como meio de comunicação direta com a população, mais especialmente com sua base eleitoral, que se formou nas redes sociais e tem um espectro social, regional e etário bem diversificado e abrangente.

A comunicação política ficou mais agressiva, volátil e imediatista, mas tem obtido um alcance e uma dominância nas redes sociais

Há uma estratégia de comunicação de Bolsonaro no uso das redes sociais: uma busca incessante de dominar seu espaço com notícias do governo, nem que isso envolva polêmicas alimentadas entre seus integrantes. A comunicação política ficou mais agressiva, volátil e imediatista, mas tem obtido um alcance e uma dominância nas redes sociais, mobilizando cotidianamente seu eleitorado. Bolsonaro tem um estilo de governo que consegue se sustentar com um terço do eleitorado considerando-o “bom” ou “ótimo”, mas para tal ele precisa estar mobilizando-o sempre nas redes sociais, e nisso tem obtido sucesso.

Na relação com o Congresso nacional, o episódio da aprovação em primeiro turno da PEC da Previdência, com surpreendentes 379 votos favoráveis, evidenciou o uso de uma estratégia. De um lado, o presidente Bolsonaro entregou pessoalmente a proposta para o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e disse reiteradamente que a “bola” da Previdência estava com os deputados, que ele respeitava a independência do Poder Legislativo, e que não negociaria votos no antigo sistema, que ele chamou de “toma lá dá cá”. E aparentemente isso aconteceu, a ponto de Rodrigo Maia ter festejado a aprovação da PEC “apesar das confusões do governo”. E pouco se falou em possível troca de votos por cargos ou verbas, não obstante o governo ter liberado R$ 1,5 bilhões em emendas parlamentares nos dias que antecederam a votação da PEC. O governo respondeu que estaria cumprindo determinação constitucional e que não havia nada relacionado com a votação da PEC. Apesar de haver fortes suspeitas de o antigo sistema ter vigorado, essa impressão não “colou” após a vitória obtida na aprovação da PEC da Previdência.

E, no dia seguinte à aprovação, o noticiário e as redes sociais ficaram polemizando não a questão da Previdência, mas uma possível nomeação do filho de Bolsonaro, Eduardo, para o cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos. A própria oposição se preocupou mais em criticar essa possível nomeação que em criticar a PEC da Previdência. Será que a nova forma de comunicação política do governo entrou em campo para distrair a atenção da opinião pública?

Adriano Cerqueira, cientista político, é professor do Ibmec BH.

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