Quando a pandemia do novo coronavírus estourou, nos primeiros meses de 2020, muitos pensaram que, em meio à dor, a crise teria potencial para despertar os sentimentos mais nobres nas pessoas. Conseguiríamos, nesse cenário, evoluir como sociedade, nem que fosse pela simples necessidade de autopreservação, pois a falta de leitos hospitalares, respiradores e medicamentos pode atingir qualquer pessoa, qualquer família, sem distinção de nome ou sobrenome.
Mais uma vez, contudo, o senso de coletividade foi colocado à prova. Neste verão, o que temos visto são notícias e imagens assustadoras de praias completamente lotadas, bares e restaurantes apinhados de gente, festas e confraternizações onde a aglomeração impera – muitas, inclusive, promovidas por personalidades que deveriam dar o exemplo e divulgadas em perfis de redes sociais sem qualquer tipo de constrangimento ou senso de culpa.
Os mais de 7 milhões de casos e quase 200 mil mortes registradas em decorrência da doença até então no Brasil parecem não significar nada.
Como temos observado, ainda não há um entendimento claro sobre quem tem mais chances de sucumbir a essa terrível doença. O que é certo, contudo, é que nas próximas semanas veremos o número de casos explodir no país, deixando ainda mais complicada e frágil a já difícil situação dos hospitais. O fato de o número de pessoas que perderam a vida para o vírus ter crescido 65% no país em dezembro último é sinal de que a pandemia voltou a se agravar no Brasil.
Aqui, vale uma importante reflexão, uma vez que não são somente os jovens que têm demonstrado comportamento irresponsável, mas muitas pessoas mais velhas e, supostamente, maduras também: qual será o impacto disso tudo nas futuras gerações? Muito provavelmente, o comportamento egoísta e a falta de sensibilidade junto ao próximo vão permanecer como (mais) uma ferida aberta nas relações sociais num futuro pós-pandemia. Infelizmente, não há como esperar resultados diferentes se estamos mantendo os mesmos maus hábitos de sempre.
O modo com o qual lidamos com doenças como a dengue, malária, Zika e a febre chikungunya, que anualmente desgraçam muitas famílias brasileiras, já diz muito. Se não temos a capacidade de reduzir o poder de destruição de um mosquito por não cuidarmos direito de – pasmem – nossos jardins e quintais, como esperar que medidas como isolamento social, higienização constante das mãos e a utilização de máscaras em locais públicos sejam respeitadas? Ao que tudo indica, nosso maior problema sempre foi – e assim permanecerá – a própria sociedade!
Esther Cristina Pereira é psicopedagoga e diretora da Escola Atuação.