Após esta eleição, o Brasil será um país diferente. Se melhor ou pior, não sei. Resta a nós, que temos apego à democracia e a seus valores, buscarmos, além da oitiva, a compreensão dos recados dados pela população através das urnas. O PSDB deve, acima de tudo, reconhecer que seu projeto foi rejeitado nas urnas em 2018. Aliás, questiono: tínhamos algum projeto?
O PSDB continua repetindo os erros do passado.
As urnas nos deram um recado, e mais uma vez nos negamos a ouvi-lo – quero dizer: nós não nos negamos, mas a Executiva Nacional sim. Tomar posição, escolher lado, falar o que pensa não é pecado. Mais uma vez a base fica alijada do processo decisório, mais uma vez o muro se torna um lugar confortável às velhas aves de plumagem, que um dia brilharam aos olhos do Brasil e estão hoje decadentes.
Deixar que cada diretório faça o que quiser é virar um PMDB ou um PP. Respeito essas siglas e os amigos filiados a elas, mas o PSDB tem, desde sua origem, um dever maior que o caciquismo regional. Fazer isso só reafirma a postura dos últimos anos de legar à militância uma posição secundária. Depois, não adianta reclamar que o PT, mesmo após os acontecimentos dos últimos anos, fez quase 30% dos votos e o PSDB não.
Ou nos renovamos e nos abrimos, ou seremos relegados ao papel coadjuvante que nossos fundadores nunca desejaram.
O PSDB, em sua fundação, teria paralelos, na política europeia, com o SPD alemão e com o Partido Trabalhista britânico
Os tucanos têm de perder o medo da democracia. Deveria haver uma consulta mínima aos diretórios dos 200 maiores municípios do Brasil antes de se tomar quaisquer posições. Maneira democrática e rápida de ouvir a base, em vez da velha discussão no Monte Olimpo.
O PSDB, em sua fundação, teria paralelos, na política europeia, com o SPD alemão e com o Partido Trabalhista britânico. Hoje, as bandeiras defendidas alinham-se muito mais à CDU alemã e ao Partido Conservador britânico. Devemos admitir que a política no Brasil é sui generis, ou seja, é algo que só existe aqui, e que esse deslocamento ideológico é natural face às mudanças dos adversários e do mundo. Quem parou em 1988 não pode se apresentar com alternativa aos desafios e anseios do século 21.
Isso não quer dizer que valores fundamentais devem ser largados. A democracia, por exemplo, é, assim como foi em 1988, um valor fundamental. Da mesma forma, as bandeiras do parlamentarismo e do voto distrital misto, como os fundadores sugeriram, se renovam e devem ser pautadas. A população anseia por mudanças na política, e temos a melhor proposta. Mario Covas, em 1989, propôs a radicalização da democracia e um choque de capitalismo; isso é atual. Mas alguns desafios e preceitos de 1988 estão superados, e não podemos nos prender a eles.
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O exemplo vem de cima. O PSDB deve fazer a autocrítica, o resultado do pleito é uma demonstração. Cobra-se do PT, contudo devemos fazê-la também. O PSDB tem errado ao longo dos anos; fomos dizimados nessa eleição pelos erros, pela falta de posição e pela falta de projeto.
“Seguir o baile” e manter o tradicional fratricídio de bastidores é aceitar a derrota e a mediocridade. Não sou medíocre nem quero que o PSDB seja assim. Enquanto o partido mantiver esse pensamento, outras ondas nos atropelarão, como foi em 2018. Os bons quadros, que sempre caracterizaram o partido, continuarão a deixá-lo.
O Programa de 1988 diz que “partidos de verdade não se criam a qualquer momento ou por qualquer pretexto”. Passado o segundo turno, será a hora de o PSDB mostrar à sociedade brasileira que é, sim, um partido de verdade.
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