Vira e mexe nos deparamos nos jornais com a expressão “gargalo de infraestrutura”. Parece um tema metafísico. Afinal, ouvimos falar do tal gargalo todo dia, mas nada de muito impactante acontece. A vida segue.
Essa postura de empurrar para frente o problema dá a falsa sensação de que ele não existe. O xis da questão é aquilo que os economistas chamam de custo de oportunidade. Diferente de uma perda direta, o custo de oportunidade diz respeito a deixar de ganhar algo. O custo da postergação é não gerar o crescimento econômico necessário para que todos vivamos melhor.
Todavia, de vez em quando o problema surge para nos assombrar. Ao aparecer, nos tira da zona de conforto. A greve dos caminhoneiros nos mostra isso. Mostra que temos um modal de transporte arcaico e que de fato, “sem caminhão o Brasil para”. Parando os caminhões, há desabastecimento. O desabastecimento gera insegurança. A insegurança gera alarmismo. Enfim, instala-se esse clima de crise que marca esses últimos dias.
Para gerar a transformação necessária é preciso deixar de lado os velhos modelos
Problemas complexos não têm uma resposta fácil (se tiverem, ela está errada). Várias causas se somam para que tenhamos chegado a esse ponto. Excessiva concentração na indústria do petróleo, ingerência política na Petrobras, alta carga tributária, subsídios para o setor automotivo, todos contribuem para o caos. O elemento comum a todos esses temas remete à questão da infraestrutura. Precisamos de estradas. Precisamos de capacidade de transporte que permita produzir e vender a preços competitivos. Portos, ferrovias, navios, etc. Diferentes opções sempre são o melhor remédio para as crises. Elas criam o que os economistas chamam de elasticidade preço/demanda. Quando mais substitutos houver para uma necessidade, melhor será a capacidade de defesa dos indivíduos frente às oscilações de preço. O preço do diesel sobe? Ele cai se houver alternativas. Os caminhoneiros fazem um lock out? Ok, vamos de trem. A lógica é essa.
Para gerar a transformação necessária é preciso deixar de lado os velhos modelos. É preciso pensar como ajustar a capacidade de investimento e a criatividade da iniciativa privada com os objetivos públicos, de modo a permitir um ambiente de negócios arejado para que os grandes empreendimentos demandados pela nação aconteçam.
Leia também: As classes produtoras pagam pelo caos brasileiro (artigo de Marcos Domakoski, publicado em 25 de maio de 2018)
Opinião da Gazeta: Estrada para o desenvolvimento (editorial de 28 de maio de 2018)
Essa crise deve nos ensinar algo. Os temas relativos à capacidade de a economia brasileira gerar soluções inovadoras, especialmente no setor de infraestrutura devem ser enfrentados. Os custos de adiar o debate são os que estão diante de nossos olhos. Os problemas não deixam de existir porque os ignoramos. O clima apocalíptico desses dias poderia ser evitado se de fato estivéssemos promovendo as mudanças de que necessitamos. Mas preferimos que as questões importantes sejam sacrificadas no altar de nossas urgências.