Depois do impeachment de Dilma, o presidente Michel Temer tem pouco mais de dois anos para colocar o país nos trilhos. Como cidadão e empresário, entendo que há uma série de medidas e posturas que o presidente deveria assumir para cumprir essa missão, começando por comprometer-se – e deixar isso muito evidente – com uma reforma política concreta, há décadas prometida por todos os governos. Há de se estabelecer uma articulação verdadeiramente conjunta do governo, das empresas e da sociedade civil em todos seus estratos, pautando-se, gostem ou não, por uma agenda de reconstrução da capacidade de articulação política, administrativa e gerencial do governo, preocupada com o conjunto da sociedade, com o real atendimento às suas demandas, sem preferências para grupos, partidos políticos, corporações ou estratos sociais.
É preciso promover um amplo corte de gastos do governo federal, incluindo custeios, diminuindo-os radicalmente. A origem primária da sempre temida pressão inflacionária está na gastança pública. Que se faça um levantamento em cada ministério e órgão federal, em Brasília e em todo o país, visando dispensar mão de obra desnecessária e contratações sem mérito, desativando o empreguismo pelego dentro da máquina pública (no governo petista, havia 22 mil cargos federais só em Brasília). Trocando em miúdos: acabar com as cadeiras cativas perpétuas no poder, tão agradáveis aos sindicalistas, e estabelecer, dentro do que prevê a lei, o princípio da meritocracia em todos os órgãos e fundações da administração federal. Viagens a passeio ou desnecessárias de ministros e funcionários de outros escalões com custos pagos pelo governo federal precisam acabar também.
O presidente deve defender, transparente e publicamente, ações como a da Lava Jato
Temer precisa observar, a cada segundo, princípios éticos, especialmente nas atividades políticas, incluindo-se a prática da transparência dos atos governamentais, contribuindo, dentro dos parâmetros legais e da liderança atribuída ao cargo, para a cassação política de parlamentares que atentem contra a ética, como foi o caso de Eduardo Cunha. O presidente deve defender, transparente e publicamente, ações como a da Lava Jato, doam a quem doer, não só para efeitos de mídia, mas junto ao Judiciário e ao Legislativo. Se verdadeira a tese de que a corrupção é endêmica, histórica e capilarizada no país, é preciso apoiar a Justiça e contribuir onde for necessário para combater corruptos a ferro e fogo.
Também faria bem ao presidente minimizar menos e respeitar mais seus adversários e/ou inimigos, e solicitar a todos os seus ministros – especialmente a alguns que adoram aparecer diariamente nas manchetes, mesmo que sejam negativas – que parem de falar besteiras.
Enfim, trata-se de incorporar em seu cotidiano a verdade que, de forma constitucional, o governo da corrupção e da cumplicidade com ditaduras acabou de vez.
Ao largo dessas medidas para se arrumar a casa, destruída por 13 anos de administração petista, são necessárias mudanças na macroeconomia, sempre com o objetivo de estimular a produção, o empreendedorismo e a firme defesa da iniciativa e da propriedade privada, abrindo o país às negociações externas, com independência e autonomia. Não é possível postergar reformas estruturais na economia, mesmo que pareçam medidas amargas no curto prazo.
No longo prazo, é preciso criar condições estruturais (o ministro Henrique Meirelles pode iniciar este trabalho) para se elevar a produtividade do sistema produtivo, baseando-se em fatores como desvalorização cambial, significativos investimentos em infraestrutura, diminuição do custo Brasil e redução radical das despesas governamentais, principalmente com a diminuição da concessão de subsídios.
A nação é merecedora de medidas que a tornem uma sociedade mais justa avançada em tecnologia, recursos humanos e em progresso social e material. O tempo para Michel Temer, claro, será pouco para tal. Mas ele pode – e deve – iniciar este processo. E preparar o país para um futuro melhor.
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