Imagem ilustrativa.| Foto: Albari Rosa / Foto Digital/Gazeta do Povo
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Praticamente todas as montadoras de veículos estão apostando na eletrificação para se reinventar.  O ano mal começou e aqui no Brasil já temos 17 novos modelos de veículos 100% elétricos, número parecido com o da Europa, onde são lançados 20 novos desses modelos todo ano. Mas a venda no velho continente é bem mais significativa, ficando em 25% do total, enquanto por aqui estamos na casa 2,4% ao ano. O que leva a essa diferença?

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O investimento em infraestrutura de recarga ainda é o maior desafio para a popularização dos carros elétricos, afinal, é preciso lembrar que o crescimento do setor está diretamente ligado ao aumento do investimento em locais de recarga. É fato que também evoluímos nesse aspecto e contamos com opções de carregamento de veículos em casa e em alguns pontos semipúblicos, como shoppings e supermercados, facilitando o acesso. Mas a experiência de ter um veículo elétrico está restrita aos grandes centros urbanos, e não atinge todo o território nacional.

A valorização do setor de biocombustíveis e os lobbies petroleiros também interferem na escala da eletrificação das frotas no Brasil. É verdade que etanol e biodiesel, de certa forma, emitem uma menor taxa de gases do efeito estufa, porém, nada comparado aos benefícios de veículos 100% elétricos. Na COP26, Conferência do Clima das Nações Unidas, em Glasgow, Escócia, o Brasil anunciou que até 2030 irá reduzir em 50% as emissões de gases poluentes.

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Apostar na eletrificação da frota seria a melhor alternativa para alcançar esse resultado. Hoje, o setor de mobilidade urbana é responsável por 25% das emissões globais de gases de efeito estufa, sendo 45% causadas por veículos leves. Mesmo assim, a pressão do setor de combustíveis ainda é muito forte e pode ser mais um impeditivo para a difusão rápida dos veículos elétricos e híbridos ou de alternativas de mobilidade 100% elétricas.

Outro ponto importante é adotar formas de incentivar a eletrificação das frotas. A adoção de isenção do Imposto de Importação e a redução do IPI de carros elétricos, por exemplo, poderia diminuir os custos desses veículos – que ainda são mais elevados do que os veículos com motores de combustão. Também podem ser adotadas outras formas de incentivo, como investir na desburocratização e os avanços regulatórios, além da utilização de blockhain no gerenciamento de contratos e transações de Tokens de CO2. Na capital paulista, por exemplo, a Lei 17.336, em vigor desde o primeiro trimestre de 2021, exige que os novos empreendimentos, imobiliário, comercial e residencial, sejam entregues com pontos de recarga e energia limpa para veículos elétricos e híbridos.

Mesmo com tantas lacunas a serem preenchidas, a perspectiva para a expansão da mobilidade elétrica no Brasil é positiva. Um exemplo disso é o aumento da utilização de motos, bicicletas e patinetes elétricos, cada vez mais comuns de serem vistos nas ruas brasileiras. No ano passado, a venda de eletrificados, que engloba elétricos, híbridos plug-in e híbridos, atingiu a marca de 30.445 unidades, isso de janeiro a novembro, pois os dados de dezembro ainda não foram divulgados. Esse total indica uma alta de 57% em relação ao mesmo período de 2020.

Esse cenário mostra que de fato passamos a “zona de arrebentação”, mas precisamos ficar atentos. Não se pode descansar ou deixar de tentar de romper as barreira que ainda prejudicam a transição da frota atual para a elétrica. E isso só será possível com mais apostas e investimento em infraestrutura, que manterão nosso país na rota da eletrificação, que é a nova realidade global da mobilidade.

Guilherme Cavalcante tem formação em Tecnologia e Mídias Digitais pela PUC-SP, pós-graduaçãoo em Design de Projetos Especiais pela BAU-Barcelona e Inteligência de Mercado pela USP. É CEO e fundador do UCorp.

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