A independência de um país é uma questão complexa que inclui fatores como economia, política interna e externa, cultura e capacidade de defesa. Nações que apresentam maior autonomia em cada uma destas áreas são, geralmente, considerados mais independentes e capazes de controlar e influenciar as decisões daqueles que exibem menor grau de soberania.
Esta condição não implica que toda a produção de bens e serviços deverá ser realizada internamente, uma vez que nenhum país consegue ser eficiente na produção de todos os produtos que necessitam. Quando uma nação tem a capacidade de definir quais produtos possuem vantagens frente às demais nações é o primeiro passo para a sua independência. Se uma região for capaz de gerar um produto de forma rápida, com poucos recursos, com boa qualidade e por um preço final menor, isso é um benefício que precisa ser explorado. Com um mundo cada vez mais globalizado e sem fronteiras, os países precisam estabelecer boas relações comerciais para atender às demandas internas e externas sejam por bens finais ou insumos.
No caso do Brasil, somos extremamente dependentes da saúde e do humor do resto do mundo em função da instabilidade do ambiente institucional.
Obviamente, que esta teoria de padrões de especialização entre as nações não está isenta de críticas. Quando um país é especializado em colher laranja, ele fornecerá um item primário de baixo valor agregado, que poderá servir de base para produção de outros bens como um suco (de maior valor agregado). Contudo, será necessário investir em máquinas e outras tecnologias para a fabricação. Neste cenário, o setor industrial ganha um destaque para criar um bem maior, com valor adicionado, o que demanda melhores salários aos funcionários, exigência maior de mão de obra qualificada. Com isso surgem escolas, universidades, centros de pesquisa e o envolvimento de uma cadeia maior de fornecedores. O ramo da indústria é mais dinâmico na economia, o que pode gerar uma dependência menor, porque aquele que produz o bem industrial costuma ter menos concorrência.
Os países que optarem por uma matriz de produção mais complexa costumam ser mais independentes economicamente dos demais, porque a compra de matéria prima pode ser originária de várias partes do mundo, além de ser mais fácil oferecer um bem primário do que transformados. Um país que tem a indústria como um bem na exportação é menos dependente do que aqueles que produzem bens primários. Neste panorama, o Brasil tem certa dependência, pois, de um lado, os itens primários são comprados, do outro estão subordinados aos recursos tecnológicos externos.
O Brasil tem pouca participação no cenário global e depende de uma conjuntura internacional. Nos BRICS (cooperação formada por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), por exemplo, os países membros do bloco podem estabelecer acordos com os seus pares para criar uma força maior e negociar para diminuir a dependência com nações mais poderosas. Apesar da independência, há laços que envolvem o capital estrangeiro, importações e recursos de outros países.
O agronegócio brasileiro é extremamente eficiente e competitivo mundialmente. Contudo, dependem de defensivos agrícolas e maquinários importados. E como toda commodities, o preço depende da oferta e demanda mundial, assim como a produção de petróleo. E como a maior parte da nossa pauta de exportações é composta por commodities, somos muito dependentes das flutuações dos preços internacionais.
A pandemia comprovou o alto grau de dependência do mundo com a China, quando o país se consolidou como o principal fornecedor de insumos tecnológicos, como os semicondutores. A crise sanitária gerou uma contração na produção e, para garantir a demanda interna, a China reduziu as exportações para o mundo, o que implicou em desabastecimento das cadeias produtivas globais, aumentos de custo e preço dos bens finais.
A crise pandêmica confirmou que nenhuma nação é independente economicamente das demais. Contudo, nesta economia global, alguns países conseguem se defender melhor de choques externos do que os outros. No caso do Brasil, somos extremamente dependentes da saúde e do humor do resto do mundo em função da instabilidade do ambiente institucional. Em casos de turbulência externa há o aumento da taxa de juros, a bolsa de valores entra em queda e os investidores decidem sair do país, o que afeta a atividade econômica nacional com redução da produção, aumento da taxa de desemprego e diminuição da renda.
Investir em uma economia que produza e exporte bens de maior complexidade e valor agregado melhoram e fortalecem o meio ambiente institucional. Entretanto, construir um ecossistema empreendedor ainda é uma tarefa hercúlea no Brasil, pois a ausência de segurança jurídica, burocracia desnecessária e demais riscos sistemáticos advindos de governos despreocupados com a eficiência do gasto público são fatores que não favorecem a nossa escalada para a independência.
Rubens Moura é professor do curso de ciências econômicas da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio.
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