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O que há para temer com o Michel?

Michel Temer, 75 anos, jovem há muito mais tempo do que o grupo que o acompanha, tem estilo, vivência, lastro e experiência. Melhor que todas essas virtudes, tem a capacidade de sobreviver dentro de um PMDB e, até prova em contrário, como ficha-limpa. Jurisconsulto, usa e abusa da sofisticação retórica para impor uma imagem de mandatário com estofo para o mais elevado cargo de nossa República. Um diferencial patente (para não dizer gritante) com as verborragias demagógicas antes ventiladas por Lula e mal reproduzidas por Dilma. Como dizem los hermanos patagônicos, “el zorro és más sábio por la edad de que por la especiación”. Dentre seus feitos, há uma exemplificação peculiar que harmonicamente vai ao encontro da maioria da população: idealizou e consolidou, enquanto secretário de Segurança do estado de São Paulo, a primeira Delegacia da Mulher no país. Feito elogiável, beneficamente multiplicado em São Paulo e demais estados da Federação em favor e defesa dos direitos legítimos do gênero humano social, familiar e biologicamente mais importante: a mulher.

Se há algum temor a ser alimentado no acompanhamento do próximo futuro desempenho do neopresidente Temer é sua roupa permanente como prócer do PMDB, partido-ferramenta-auxiliar de quem quer que tenha abocanhado o poder político através do voto popular que sempre sobrou quantitativamente ao PMDB para a eleição de segundos escalões, mas qualitativamente lhe faltou para os postos de maior definição, com duas e lamentáveis exceções: as presidências da Câmara Federal e do Senado da República. Vale a pena citar Antonio Morais: “houve época, não tão distante, em que os políticos eram como água e óleo: não se misturavam. Com o Modebra e Arena não existiam acordos e negociatas como as de hoje em dia neste balcão de 40 partidos políticos de aluguel”. Saudades imensas de um Ulysses Guimarães, um dos fundadores do Movimento Democrático Brasileiro em 1965, em pleno ciclo inicial da ditatura militar, ao lado, dentre outros, de um cearense ilustre e paranaense por adoção, José Alencar Furtado, por três vezes deputado federal de oposição até sua cassação em 1977.

Saudades imensas de um Ulysses Guimarães, um dos fundadores do Movimento Democrático Brasileiro

Nas cautelosas manifestações midiáticas produzidas até agora, Temer, por uma vez, foi menos feliz quando – esquecendo-se de sua condição de jurista constitucional –, ao ser indagado se via impedimento na designação do senador Romero Jucá Filho (PMDB-RR) como ministro do Planejamento, ora investigado pelo MPF e por ele denunciado, vacilou, não apenas pelo alegado de não admitir qualquer impedimento para tanto, mas pelo fato de omitir o pronunciamento complementar impositivo: “se de investigado pela Justiça o ministro Jucá, partidariamente correligionário, se converter em réu ou condenado, será imediatamente afastado mesmo com prejuízo de suas virtudes como articulador político e conhecedor da formulação de peças orçamentárias”. Este, sim, era um temor real a se monitorar, pois o prato da balança mantido pelo colendo Henrique Meirelles em um Ministério da Fazenda imune a partidarismos estéreis certamente desequilibrar-se-ia por um ministro de Planejamento em descrédito popular sob caça da Justiça. Per se, ou via fórceps, Jucá foi afastado do cargo, trotando para fora celeremente e na companhia do ministro da Transparência (arre!), flagrado atuando como rábula-informante de Calheiros e companhia sob meia dúzia de denúncias. A bola da vez é Henrique Alves, do Ministério do Turismo – que quadrilha este PMDB! –, também lubrificado pelo petrolão, o qual não há jato que lave de vez.

Um país de riquezas patentes, pouco povoado e por dezenas de anos destroçado pela demagogia do peronismo, a Argentina tem experimentado, em dois pares de meses, uma espantosa recuperação logo após ter varrido, em eleições livres, o estilo caudilho para a lixeira que deve acompanhar qualquer democracia em depuração. Não há, pois, empecilho de qualquer ordem para igual feito no Brasil, e Temer detém o preparo jurídico para encaminhar um projeto ou emenda constitucional moralizante de fundo: impor penalidade e prisão dobradas após julgamento em ritmo célere para qualquer denunciado e condenado por peculato, concussão e/ou propinofilia, seja no território do funcionalismo público, seja nas cortes parlamentares, com validade também para qualquer ordenador ou negociador de despesas quando prevaricar como co-optante ou co-optado pela corrupção empresarial no desvio de recursos do erário público – incluído, obviamente, o confisco de bens móveis e imóveis, de qualquer corrupto.

Outra prática que seria extremamente benéfica à saúde democrática brasileira seria proibir qualquer designação de próceres por parte de agremiações políticas, similares ou genéricas: ministro do STF deve ser empossado após eleição pelo voto dos juízes federais; o procurador-geral da República, através do voto de todos os procuradores federais; o diretor-geral da Polícia Federal, pelo conjunto de delegados federais; membros do TCU e dos TCE, não mais por indicação de presidente da República, governadores de estado ou assembleias legislativas, mas sim pela comunidade de procuradores e auditores – e assim por diante. É deste novo Brasil que nossos filhos e netos precisam a prazo curto. É deste tipo de presidente da República que todos necessitamos – e já.

Alguém é capaz de imaginar o que mais virá quando Lula oferecer sua delação premiada?

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