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O anúncio do banco central sobre a criação da nota de duzentos reais, estampada pelo lobo-guará, causou grande repercussão na internet, gerando dúvidas e preocupação por parte da população. A explicação do banco central é relativamente simples, mas será que há motivos para nos preocuparmos com a impressão do nosso novo mascote?

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A primeira dúvida, mais comum entre quem conviveu com a inflação galopante dos anos 80 e 90, é se há risco de repetirmos essa confusão futuramente.

Para respondermos isso, precisamos olhar o histórico inflacionário desde 1994, quando houve a criação do plano real. Com isso, podemos perceber que cem reais daquele ano valem hoje menos de vinte reais. Ou seja, o real perdeu mais de 80% de seu poder de compra desde a sua criação. Chega até a ser irônico quando percebemos que o banco central possui como função ser o “guardião da moeda”.

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Mas essa perda, apesar de lastimável no bolso do consumidor, é meramente o ciclo natural de qualquer moeda fiduciária, já que praticamente todos os bancos centrais do mundo trabalham com uma “meta de inflação”, ou seja, uma meta de quanto o dinheiro irá desvalorizar todo ano. O governo, portanto, trabalha com a premissa de que o nosso dinheiro irá valer menos amanhã.

Logo, podemos afirmar que a nova nota de duzentos reais é meramente um resultado da inflação passada, como se fosse um novo livro nos contando sobre aquilo que já passou, e não um indicador de inflação futura. É até surpreendente que essa correção demorou para acontecer.

O medo da inflação também pode ser um problema de semântica da palavra “impressão”. Na criação da nova nota, haverá a “impressão de dinheiro”, termo popularmente utilizado por algumas escolas de economia para explicar como a inflação é criada. Isso acontece porque antigamente as transações eram feitas em maior escala com dinheiro físico, e quando o governo imprimia dinheiro gerava o “efeito Cantillon”, resultando no aumento da inflação.

Hoje, a inflação poderia ocorrer através da criação de dinheiro digital, que são meramente algoritmos gerados através do sistema de reserva fracionária, jogados na economia através do mercado financeiro. Logo, se a intenção fosse a desvalorização da moeda, a mera impressão do dinheiro físico seria um processo muito irracional, tendo em vista que é muito mais custoso para o banco central do que meramente criar alguns dígitos.

Outra dúvida é que, se estamos vivendo uma era tecnológica, onde as pessoas estão usando cada vez menos dinheiro físico, porque imprimir novas notas?

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Isso acontece porque durante a pandemia houve um aumento na demanda por notas de papel. Parte da população está guardando mais dinheiro “no colchão”, sem depositar o dinheiro no banco ou fazer a circulação dele no mercado. Esse processo é chamado de entesouramento, muito comum em momentos de crise, quando indivíduos (geralmente desbancarizados) acabam aumentando seu nível de caixa. Isso foi acentuado pela corrida aos bancos, quando parte da população quis buscar suas notas coloridas disponibilizadas pelo governo através do auxílio emergencial e da liberação do FGTS.

Com essas dúvidas esclarecidas, se há qualquer sinalização que pode ser entendida por baixo dos papéis dessa nova nota, é que o banco central pode estar assinando a sua ineficiência ao contar a história de como rompeu a sua principal obrigação desde a criação do Plano Real, que era manter o poder de compra da nossa moeda.

Elvis Pletsch é graduando em Ciências Contábeis pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) e Coordenador Operacional do Grupo Galts.