Dias atrás, tive o prazer de falar com estudantes universitários em Curitiba a respeito das implicações do referendo ocorrido em julho de 2016, que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia (UE). O chamado “Brexit” evidencia, acima de tudo, o desejo de mudança, de fazer o Reino Unido mais forte e justo, restaurando a nossa autonomia e protagonismo nos direcionamentos da nação, ao mesmo tempo em que nos tornamos ainda mais globais — um assunto, portanto, de interesse do Brasil.
Mais recentemente, em março deste ano, a primeira-ministra britânica acionou o Artigo 50 da Convenção de Lisboa – que trata da saída de um membro do bloco europeu –, o que oficializou o Brexit. As negociações de como isso vai acontecer iniciam agora, podendo durar até dois anos.
A história do Reino Unido com a UE começou em 1973, quando decidiu unir-se à Comunidade Econômica Europeia. A relação evoluiu ao longo dos anos, com o Reino Unido integrando uma importante área de livre comércio, além do Parlamento Europeu. Importante lembrar, no entanto, que nunca utilizamos o euro como moeda nacional e nem fazemos parte da área Schengen.
Com o Brexit, dá-se espaço para o surgimento de um Reino Unido mais autônomo, mais global
Ao sair da UE, estamos apenas reorientando nosso olhar para a economia e para oportunidades de forma mais extensiva pelo mundo. Isso não representa, contudo, a saída da Europa. Vamos continuar a ser parceiros fiéis, aliados e muito próximos dos países europeus.
Com o Brexit, dá-se espaço para o surgimento de um Reino Unido mais autônomo, mais global. Somos historicamente uma importante influência no mundo e uma liderança no apoio a um sistema baseado em regras internacionais, paz e segurança; além de sermos uma das economias mais fortes e abertas do planeta. Não por acaso, um em cada sete líderes mundiais e chefes de Estado foi educado em nosso país.
A visão pós-Brexit contempla objetivos imprescindíveis para a população britânica, tais como: fortalecer a união das quatro nações que compõem o Reino Unido (Escócia, País de Gales, Inglaterra e Irlanda do Norte); restabelecer controle das nossas próprias leis e da imigração vinda da União Europeia; garantir os direitos dos cidadãos europeus em nosso país e vice-versa; buscar acordos de livre comércio com a UE e outros lugares do mundo.
Neste contexto, o Brasil é um dos países com potencial para aproveitar as oportunidades geradas por um Reino Unido mais global. Temos um histórico de cooperação com o país desde a sua consolidação, como quando atuamos como intermediadores do reconhecimento da independência do Brasil pelas nações europeias. Uma demonstração do potencial brasileiro com o Reino Unido é o fato de que nos últimos três anos e meio visitaram o Brasil mais de 30 ministros britânicos, incluindo representantes das pastas de Relações Exteriores e Comércio Internacional.
Nós, que somos o quarto maior investidor estrangeiro no Brasil, queremos apoiar o país em sua transformação social e econômica com projetos de proteção ao meio ambiente e promoção do crescimento, aperfeiçoamento de infraestruturas sustentáveis nas cidades, pesquisa e desenvolvimento, entre outros. Estudantes, turistas, pesquisadores e talentos do Brasil são e continuarão sendo muito bem-vindos, fortalecendo os laços que nos unem.
Os próximos anos significam uma grande transformação no relacionamento do Reino Unido com outras nações, e estamos cientes dos desafios que o Brexit representa. Mas somos uma nação resiliente. Acreditamos que as mudanças abrirão novas oportunidades e vamos trabalhar para buscar os melhores caminhos para o Reino Unido, a UE e o mundo.