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Costumo fazer uma analogia entre o que acontece hoje na área da saúde e o Renascimento. Se dermos uma olhada nos livros de História, veremos que este período compreende uma ruptura com a Idade Média, conhecida como a “era das trevas”, e um resgate cultural das riquezas da Idade Antiga. Um livro belíssimo do recém-falecido filósofo e semiólogo italiano Umberto Eco, chamado O Nome da Rosa, retrata bem essa época. Essa obra, aliás, foi transformada em filme. E por que faço esta comparação? Porque atualmente estamos vivenciando o que considero o Renascimento da humanização da saúde.

Se não por experiência própria, mas por relatos de pessoas próximas mais velhas, sabemos que antigamente havia o médico da família. Ele era um profissional que chegava a atender em domicílio, conhecia os pacientes desde o nascimento, desenvolvia todo o processo do tratamento com uma personalização inquestionável. Era uma época em que uma pessoa conseguia responder, sem titubear, quem era o médico que a atendia – e toda a família.

A humanização da saúde é uma tendência irreversível

Com o advento da massificação dos sistemas público e privado de saúde, entramos na era do que chamo de atendimento médico drive thru. Assim como nas grandes redes de alimentação rápida, os pacientes passaram a ter consultas minimalistas, diagnósticos muitas vezes superficiais e, em alta prevalência, pouco ou quase nenhum vínculo com o profissional que o atendia. A relação se esvaiu, causando incômodo e descontentamento para ambos os lados. Passou a ser raro alguém poder nominar quem era o médico que o atendia.

Percebo agora o que estou chamando de Renascimento da era do relacionamento próximo entre o médico e o paciente. Este resgate se dá pela necessidade básica e intransferível da confiança entre as partes, e também pela identificação de problemas que o cenário anterior causou.

Na esfera pública, a Política Nacional de Humanização existe desde 2003 e busca efetivar o cotidiano das práticas de atenção e de gestão, qualificando a saúde no Brasil e incentivando trocas solidárias entre gestores, trabalhadores e usuários. Na prática, a esfera pública buscou fomentar a especialidade “médico de família”, que seria um generalista que aproximaria a população do atendimento médico primário, teria acesso à prevenção e ao diagnóstico precoce. Infelizmente, as condições de trabalho não são adequadas para esses profissionais (médico e equipe multidisciplinar de apoio), e a população permanece com dificuldade de acesso à saúde.

Na esfera privada, é cada vez mais comum encontrarmos médicos que abdicaram da multifuncionalidade, priorizaram o atendimento particular e se empenharam no aprofundamento dos diagnósticos e dos tratamentos.

Neste 7 de abril, quando celebramos o Dia Mundial da Saúde, mais do que comemorar, é importante aqui valorizar essa relação de confiança entre o paciente e o profissional. Afinal, na área da saúde, ela é mais do que essencial. E faço aqui minha contribuição para reforçar que a humanização da saúde é uma tendência irreversível. As empresas que ainda não priorizam essa prática certamente irão adotá-la muito em breve. Médicos, pacientes e todos os profissionais de saúde agradecem.

Myrna Campagnoli é diretora médica do Laboratório Frischmann Aisengart.
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